10.5.11

Ateus: melhores representantes da ciência?



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ATEU:  "Sou um representante da ciência"
Essa é uma das técnicas preferidas dos neo-ateus nas comunidades de debates. Nela, eles escondem seu ateísmo com a justificativa de que estão do “lado da Ciência” ou agem como se fossem “representantes da Ciência”. Essa técnica também pode ser chamada de “disfarce científico para o neo-ateísmo”.
Ela pode ser aplicada, por exemplo, dessa maneira:
  • NEO-ATEU: A nossa diferença é a seguinte: eu penso cientificamente. O ateísmo é científico, o teísmo não.
  • REFUTADOR: O quê?! É o que vamos ver…
Nessa pequena sentença, já temos, pelo menos, duas falhas estruturais.
O neo-ateu já começa errando de cara com um “eu penso cientificamente”.
Primeiro, que não existe um “pensar cientificamente”.
O método científico é, basicamente, um método de trabalho, não uma maneira de pensar no dia-a-dia. Pela sua própria natureza, é IMPOSSÍVEL fazer recortes de todos os momentos em que usamos o pensamento e aplicar o método científico.
Ou alguém aí quando sai com a namorada faz verificações mentais de acordo com método científico de todas as afirmações feitas por ela?
É evidente que não. Isso impossibilitaria qualquer contato humano.
O que existe, no máximo, é uma orientação maior ou menor de certos sujeitos para a tomada de decisões em áreas específicas de acordo com princípios céticos ou de acordo com o método científico (como a tomada de decisão sobre a existência de Deus, que seria a conexão entre as duas frases originais, imagino).
Mas o fato de alguém declarar que “toma mais decisões com base no ceticismo”, NÃO demonstra a validade dessa afirmação. Configura, no máximo, self-selling e evidência anedota.


O ceticismo implica em AVALIAR as alegações criticamente.
E por que teríamos que agir diferente nessa situação em que alguém alega “pensar mais ceticamente”?
A situação é clara: qualquer um que alegue que “pensa cientificamente/usa mais do ceticismo”, deve DEMONSTRAR que faz isso.
Se a alegação for geral, então ele deve provar no seu dia-a-dia que usa mais do que você. Basta desafiá-lo a fazer isso, o que deve ser feito não em uma só área escolhida por ele, mas com um scout COMPLETO das ações de cada um, no mínimo, a partir de onde serão feitas as comparações para decidir quem toma mais “decisões científicas”.
Se a alegação for para a existência de Deus, então nós seguimos para o segundo erro desse estratagema, que é considerar que “o ateísmo é científico, o teísmo não”.
Existem vários planos de discussão, entre eles o científico e o lógico.
Para uma discussão ser realizada no âmbito científico, ela deve NECESSARIAMENTE cumprir alguns pré-requisitos, como o empirismo, a testabilidade, a capacidade de se reproduzir os resultados, o controle das variáveis e mais alguns outros requisitos que não precisam ser listado nesse artigo.
No entanto, existem outras discussões que vão além do campo cientifico, pela falta de algum de seus requisitos e são realizadas no campo filosófico (exemplos tradicionais: discussões morais, estéticas, existência de outras mentes, validade universal das leis da física, etc).
A questão da existência de Deus é exatamente uma dessas discussões que não podem ser realizadas no âmbito científico.
Como Deus, por definição, é transcendente a natureza, então a ciência não pode emitir um juízo de valor sobre sua existência, pois o requisito “empírico (material – Deus é imaterial)” fica faltando.
A partir daí, se quisermos discutir a existência de Deus, só o poderemos fazer logicamente (como os argumentos da causa primária, cosmológico kalam, fine tunning, etc), goste o neo-ateu ou não.
Talvez ele responsa que “A Ciência é o único meio correto para tomar decisões, por isso o ateísmo é correto”.
Basicamente, o que o cientificista faz é definir logicamente… que definições conseguidas a partir da lógica não são válidas.
Non-sense puro, além de configurar uma paralaxe cognitiva.
Para piorar, o fato de “não existirem evidências empíricas da existência de Deus” (coisa que qualquer besta sabe), não valida o ateísmo, se o considerarmos como negação da existência de qualquer divindade.
Mostra, apenas, que devemos ficar neutros na questão.
Não há nada de “se não há provas, a Ciência considera que não existe”.
Considera-se que NÃO SE SABE se existe ou não, não que “não existe”.
Enfim, o golpe final nesse assunto, com certeza, foi dado pela Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos, citada no blog do Luciano:
Na raiz do aparente conflito entre alguma religiões e a evolução está uma compreensão equivocada da diferença crítica entre o modo de conhecimento religioso e o científico. As religiões e a ciência respondem a perguntas diferentes sobre o mundo. Se existe um propósito no universo ou um propósito para a existência humana, essas não são perguntas para a ciência. O modo de conhecimento religioso e o científico representaram, e continuarão a representar, papéis significativos na história humana… A ciência é uma maneira de conhecer o mundo natural. Ela se limita a explicar o mundo natural através de causas naturais. A ciência não pode dizer nada acerca do sobrenatural. Se Deus existe ou não é uma questão sobre a qual a ciência é neutra.
Ou seja: a Academia Nacional de Ciências CONCORDA com a avaliação de que Deus não é um assunto científico. No que ela está corretíssima.
Só por aí, já dá para ver a babada que é essa alegação do neo-ateísmo.
Portanto, para refutá-lo, basta lembrar dos seguintes pontos:
  • (1) Alegações de “penso cientificamente” (que deveriam ser “kickadas” do debate para não polui-lo) são pura evidência anedota e carecem de demonstração, pois não temos motivos para confiar a priori no que um neo-ateu diz ;
  • (2) Tanto ateísmo quanto teísmo NÃO são científicos, pois a existência de Deus é discutida logicamente, não cientificamente (como qualquer discussão metafísica);
  • (3) Extrapolações para pseudo-ciências podem ocorrer por INTERESSES ideológicos, como pró-cristianismo, no caso do teísta, ou pró-humanista, socialista, cientificista, etc no caso do ateu;
O diálogo citado poderia seguir dessa maneira:
  • NEO-ATEU: A nossa diferença é a seguinte: eu penso cientificamente. O ateísmo é científico, o teísmo não.
  • REFUTADOR: Simples: prove que pensa mais “cientificamente” do que eu. Pode começar trazendo um relatório de tudo que eu fiz nas minhas últimas 24h, o que você deve saber, já que alegou que usa mais do método científico do que a minha pessoa.
  • NEO-ATEU: Ahn… Isso aí é óbvio que eu não tenho. Mas o ateísmo, por si só, já traz uma natureza questionadora e científica.
  • REFUTADOR: Claro que não. Ateísmo é apenas a negação da existência de Deus. É possível acoplar qualquer coisa nisso, inclusive credulidades absurdas em naturalismo e cientificismo, que são tão ruins quanto qualquer criacionismo.
  • NEO-ATEU: Deus existe, cientificamente falando? NÃO. Portanto, tem lógica crer nisso? NÃO. Quem dá apoio a pseudo-ciências como Criacionismo? CRISTÃOS.
  • REFUTADOR: Mas a discussão sobre a existência de Deus não é feita no nível científico e sim no nível lógico. A inexistência de evidências empíricas para o não-empírico… é pura obviedade. Discussões metafísicas são feitas filosoficamente, assim como discussões morais. E ateus também inventaram porcarias como memes. Qualquer um pode mentir ou inventar por interesses ideológico, inclusive aqueles que se definem como ateus. Jura que você não sabia?
[E assim vai, até desmascará-lo. Lembrando que não importa se o neo-ateu vai entender ou não, pois em certos casos eles já podem ser classificados como meras VÍTIMAS de engenharia comportamental, tamanha sua incapacidade de compreensão. O foco deve ser o entendimento do público, apenas]
Conclusão
A idéia de que neo-ateus são “representantes da Ciência” é uma bobagem tão grande que sequer merecia ser comentada. Naturalmente, podemos postular que esse é só o efeito colateral de discursos de auto-ajuda para tornar o neo-ateísmo mais atraente, fazendo a pessoa achar que é a “representante da razão” contra os “fanáticos religiosos”, o que vai gerar a motivação para militância desejada por certas pessoas.

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