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30.5.11

"as coisas materiais" = tudo que existe?

Admirável Mundo Materialista*
Ao que parece, para algumas teorias materialistas, em um futuro próximo tudo se passará como no livro de Aldous Huxley Admirável Mundo Novo - teremos pílulas para tudo: ansiedade, depressão, bem estar, medo; a vida mental deixaria de ser um problema, e estaria enfim ao alcance de cada um de nós, na drogaria mais próxima...

O monismo materialista ou fisicalismo parte da premissa de que só há uma classe de coisas no mundo: as coisas materiais. Mas, afinal O que é Matéria? O que são entes materiais? As coisas possuem corporeidade? Se sim, o que é isso?O próprio Russell nos chama a atenção de que antes de buscarmos avaliar se é possível reduzir a mente ao cérebro temos é que refletir acerca do que afinal é a matéria, caso contrário estaríamos caindo em teses ingênuas e pouco refinadas.

Ora, se todas as coisas são materiais, a mente também o seria, logo, falar de cérebro ou de mente seria falar sobre a mesma coisa, ambas teriam as mesmas propriedades. Todavia, disso podemos ser obrigados a aceitar afirmações do tipo: minha saudade é úmida e ocorre a três centímetros do meu córtex pré-frontal. Em última instância, a própria afirmação de que “estados mentais são estados cerebrais” poderia não passar de um estado cerebral, e sua veracidade poderia ser alterada logo em seguida por alucinógenos e outras substâncias...

Na tentativa de contornar este aparente paradoxo surgiram diferentes teorias materialistas. Para umas estados mentais são estados cerebrais (teorias da identidade), para outras são redutíveis a estados cerebrais (reducionismo), ou elesemergem de estados cerebrais (emergentismo ou teorias da superveniência). Todas elas tem pontos fortes e pontos fracos, mas até agora não há razões suficientes para eleger uma delas como a melhor...o que há são discussões em aberto, e é este o motivo deste texto, estimular a discussão! Será que a equação 'mente=cérebro' é a nossa solução? Será a mente um produto do cérebro? Ou será que devemos esquecer de vez a mente e nossos vocabulários mentalistas e ficar apenas com o cérebro? Será que o cérebro causa a mente ou o mental pode agir causalmente sobre o cerebral?

Um abraço a todos,
Nivaldo Machado
Eduardo Benkendorf

Edição de Rafaela Sandrini

*Toda argumentação do texto foi baseada no capítulo três do livro Mente, Cérebro e Cognição, de João de Fernandes Teixeira.

texto original em: http://filosofiadamenteecognicao.blogspot.com/2011/04/admiravel-mundo-materialista.html

26.5.11

o fisicalismo que você fala, mas não sabe que fala e nem sabe o que é

Reproduzo abaixo um trecho do artigo de Diego Zilio, do Programa de Pós-graduação em Psicologia Experimental, Laboratório de Análise Biocomportamental, Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo, Brasil.

O artigo em questão é intitulado de: Fisicalismo na filosofia da mente: definição, estratégias e problemas. Pode ser acessado, na íntegra, aqui.

Abaixo seguem alguns trechos e, ao fim, uma breve discussão minha. Boa leitura.


visto que a demarcação da Psicologia como ciência fisicalista é cada vez mais comum, pois
serve à função de eximi-la de qualquer teor dualista, além de colocá-la no contexto científico
da biologia, da neurociência e da ciência cognitiva computacional, é imprescindível aos 
estudiosos desse âmbito conhecer os problemas filosóficos que acompanham o fisicalismo.



Distinções entre verdades necessárias e verdades contingentes (Haak, 1978/1998).

Uma verdade necessária não poderia ser de outra forma, já que sua negação é impossível ou contraditória. “2+2=4” ou “Se todos os homens são mortais e Sócrates é um homem, então Sócrates é mortal” são exemplos de verdades necessárias. Uma verdade contingente, por sua vez, é aquela cuja negação pode ser possível ou consistente. “Se a temperatura média da Terra aumentar 1,5 graus, então 30% das espécies e plantas serão extintas” é um exemplo de verdade contingente. As verdades científicas – se forem definidas como verdades – são em sua totalidade verdades contingentes.

...Afirmação recente de Stephen Hawking (dito, cientista)

STEPHEN-HAWKING.jpg

" O cérebro humano é como um computador que, quando se quebra, simplesmente para de funcionar. Vida após a morte é um conto de fadas."

Se você leu o que foi escrito no início do post, perceberá que, ENQUANTO CIENTISTA, essa é uma afirmação deveras ignóbil. Se ele fosse explicitiada de outra maneira, como abaixo, por exemplo, até faria sentido. Veja: 

[Há uma série de evidências que sugerem que] O cérebro humano é como um computador que, quando se quebra, simplesmente para de funcionar. [Se esta tese estiver correta a] Vida após a morte é um conto de fadas.

Parece que Hawking esquece que é um cientista com grande apelo popular, especialmente entre o público leigo, de modo que quase tudo que sai de sua boca, sai como "verdade". O mínimo de responsabildiade que um cientista como ele deveria ter seria passar as informações de maneira mais transparentes. Se algo que ele afirma é uma opinião pessoal, que ele deixe isso claro. Caso contrário, devo dizer que ele está se saindo um péssimo cientista. Porém, não me preocupo muito, pois o quase-xará, Dawkins, é imbatível 

" Sim, eu vendo muitos livros, mas matei
todas as aulas de filosofia da ciência."


C O M P A R T I L H E   N O S   B O T Õ E S   A B A I X O

25.5.11

fantasmas não podem existir? a aposta do fisicalismo

Texto de Aline M. Ramos - doutoranda em Filosofia pela Université du Québec à Montréal (UQAM), Canadá, Mestre em Filosofia pela Fordham University (EUA), Mestre em Ética & Sociedade pela Fordham University (EUA), Membro do Círculo Latinoamericano de Fenomenología, Membro da Cátedra Canadense de Pesquisa em Teoria do Conhecimento


Muitos de nós partimos de pressuposições fisicalistas no nosso dia-a-dia. Muita gente, mesmo sem conhecimento muito aprofundado de ciência, tem uma espécie de crença mágica em aparelhos de medição e acessórios de laboratório. Dessas coisas que se vê em C.S.I. ou programas de ficção científica, tipo Fringe: máquinas que transformam ondas cerebrais de pessoas mudas em voz computadorizada, eletrodos que monitoram sinapses e reproduzem em telão imagens mentais das pessoas e por aí vai.

Quem acredita nisso, ou melhor, quem acredita na tese de que todos os estados humanos são físicos (i.e. não existem estados mentais, ou estados mentais podem, em última análise, ser reduzidos a estados físicos) pode ser considerado fisicalista.

O fisicalismo parece, de fato, ter bastante credibilidade. Mas muita gente já formulou argumentos contra ele. Exemplo disso é Carl Gustav Hempel, matemático, físico e filósofo (aquele do empirismo lógico). O dilema de Hempel é um argumento contra o fisicalismo. O que ele fez foi atacar o fisicalismo dissolvendo o conceito de “física”. O argumento é o seguinte:


(1) Se o fisicalismo é verdadeiro, então a “física” será definida ou como relativa a um estágio incompleto da ciência ou a um estágio ideal, completo, de ciência.

(2) Se a “física” é definida como relativa a um estágio incompleto da ciência, então, o fisicalismo é falso.

(3) Se a “física” é definida como relativa a um estágio ideal, completo, de ciência, então falta conteúdo ao fisicalismo. .∙. O fisicalismo ou é falso ou é falho em conteúdo. [de 1, 2, 3 por dilema construtivo]



Pouquíssimas pessoas em sã consciência (incluindo os próprios fisicalistas) negariam que a ciência evolui. A ideia fisicalista de que tudo é físico (i.e. que há propriedades físicas e que todas as propriedades são físicas) deve ser tomada junto de sua visão de que as ciências naturais – paradigmaticamente, a física – descreve e explica. No entanto, como definiríamos a física, se ela aparenta ser algo mutável?

Parece que nos restam duas possibilidades:

a) Podemos definir a física como relativa a um estágio incompleto da ciência;
b) podemos definir a física como relativa a um estágio completo, ideal, de ciência tal como ela se apresenta.

O problema com a primeira possibilidade é que ela faria com que o fisicalismo alegasse que tudo pode ser exaustivamente explicado pela física atual, o que obviamente não ocorre, já que há vários fenômenos ainda não explicados pela física, como a matéria escura. É muito provável que nosso atual entendimento do universo físico pode ser falsificado e substituído por outro, melhor, mais abrangente. Assim, como fisicalismo se apóia na física atual, i.e. um estágio incompleto da teoria física, ele deve ser falso.

O problema com o segundo é que se dissermos que a física é definida em relação a uma teoria física completa e o fisicalismo, por sua vez, alegasse que tudo pode ser descrito por esta teoria física completa. O que se segue é que simplesmente não saberíamos o que o fisicalismo está dizendo, já que ainda não atingimos esse estágio de uma teoria física completa; assim, o fisicalismo seria falho em conteúdo.

Finalmente, as duas possibilidades nos levam à conclusão de que o fisicalismo ou é falso, ou é falho em conteúdo, o que deveria fazer com que pensássemos bem antes de ficarmos fascinados com os avanços tecnológicos a ponto de acreditarmos que será possível, um dia, fazermos coisas como ler pensamentos através de tomografias computadorizadas e coisas assim.