28.7.11

sobre a (in)tolerância entre ateus e religiosos

O texto abaixo é de  Alex Castro e está disponível em: http://www.interney.net/blogs/lll/2011/01/22/como_saber_se_voce_e_um_intolerante/-

O texto é bom, mas ao final teço uns comentários ácidos sobre a posição do autor. Boa Leitura.

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Como Saber se Você É um Intolerante

É assim: se você não tem nada contra ateus e talz, mas se, no momento em que abrem a boca e se organizam, você começa a chamá-los de "militantes", diz que fizeram do ateísmo uma religião, se sente incomodado, etc, é isso, por definição, que faz de você um intolerante, entende? Talvez você não saiba, mas você é.

Se você só tolera um grupo enquanto ele está invisível e calado, mas no momento em que aparecem, abrem a boca, se organizam, fazem paradas gays, pedem ação afirmativa, querem ser chamadas de presidentas, você se sente incomodado e começa a criticar, bem, ser intolerante é isso, entende? Sei que você se acha uma pessoa boa e tolerante, mas está se enganando.

Não existe outra definição de intolerância. Tolerar o outro só enquanto ele está longe, silencioso e na dele é ser intolerante.

* * *

Eu também me incluía nisso. Eu também tinha um pouco de implicância com o Dawkins por achá-lo "ateu militante" mas depois de ver a quantidade de gente mandando os ateus calarem a boca, percebi que a militância atéia é tristemente necessária.

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Comentários:

" A palavra tolerância, provém da palavra Tolerare que significa etimologicamente sofrer ou suportar pacientemente. O conceito tolerância radica numa aceitação assimétrica de poder: a) Tolera-se aquilo que se apresenta como distinto da maneira de agir, pensar e sentir de quem tolera; b) Quem tolera está, em princípio numa posição de superioridade em relação aquele que é tolerado. Neste sentido pode ou não tolerar. 

A tolerância pressupõe sempre um padrão de referência, as margens de tolerância que se assume como intolerável. "

Portanto, a tolerância exige um PADRÃO DE REFERÊNCIA que, penso eu, não pode ser definido arbitrariamente por uma das partes, mas por uma comunidade de bom senso - visto: composta por ateus e religiosos. A moderação leva à tolerância.

Assim, buscar a moderação e, portanto, o padrão de referência, não é viver o sentimento do intolerante brotar dentro de si. Intolerar é exatamente não buscar um padrão, uma moderação. 

Assim posto, creio que o texto peca em qualidade por dizer que se eu critico algo, buscando a moderação, sou intolerante. Do jeito que está posto, na literalidade das coisas, não há ponto de debate, já que qualquer busca por diálogo pode ser considerada intolerância. E aqui, mais do que nunca, é preciso refinar o literalismo e transformá-lo em funcionalidade. 

Quando um ateu e um religioso entram em diálogo a respeito da crença em um Deus, por exemplo, eles não precisam, obrigatoriamente, travar um debate intolerante. É óbvio que, para tanto, é necessário que ambos sejam pessoas dispostas a tal, com a maturidade o conhecimento que a situação exige.

Por exemplo, vejo os encontros do Dalai-Lama com os cientistas cognitivos no MIT, onde religiosos e ateus tolerantemente divergem e crescem intelectualmente.

Deste modo, eu tolero pessoas religiosas e discursos religiosos e pessoas atéias e discursos ateus desde que o padrão de referência, que pode ser a "não-violência", o "não-escárnio", e outros valores humanistas laicos, estejam presentes.

Eu não preciso debater com o outro, necessariamente, o diminuindo, ridicularizando ou ofendendo. Isso, para mim, é ser intolerante. De modo geral, os "neo-ateus", apegados ao grupo de idéias dos "brights" (Dawkins, Dennett, Harris, etc) utilizam desses mecanismos de escárnio para criticar os religiosos. Isso, para mim, é ateísmo de baixo nível, intolerante.

Do mesmo modo, religiosos, em sua grande maioria, também diminuem ateus com os mais diversos adjetivos pejorativos, o que é lamentável.

Contudo, acredito na possibilidade de um debate tolerante e enriquecedor para ambos, onde nem o deboche nem o militantismo são artifícios em jogo.

Se você acredita em Deus, deve acreditar em Papai Noel também! (escárnio desnecessário)

O escárnio se faz necessário porque convence aqueles que se contentam com pouco. O escárnio é mais televisivo (veja como a BBC trata o Dawkins) do que a riqueza filosófica. Mas, no fringir dos ovos, a tática do escárnio é apenas o retrato da baixa capacidade argumentativa dos senhores "brights". Falta filosofia, falta teologia e, acima de tudo, falta filosofia da ciência.

Ainda assim, aceito que o Dawkins solta umas coisas boas, umas "frases de efeito", vez ou outra! Eu me divirto, assim como me lamento

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