26.12.11

astrologia e ciência. Faz sentido?

Ontem eu estava conversando com o Sr. Barão, as Srtas Alminhanas menores. O tema era a cientificidade da Astrologia - enfim - polêmico.

Astrologia não é ciência, por Kepler de Souza Oliveira Filho

A astrologia relaciona a posição dos astros no céu, tanto no nascimento quanto diariamente, com fatos na Terra, incluindo os humores e destinos das pessoas. Ela assume que há ação dos corpos celestes sobre os objetos animados e inanimados e que os ângulos aparentes entre os planetas no céu afetam a humanidade.

Astrologia não deve ser confundida com Astronomia, a ciência que verdadeiramente estuda os astros e seu funcionamento, isto é, sua física.

Quando a astrologia começou, no vale dos rios Eufrates e Tigre, no atual Iraque, cerca de 3000 a.C., os mesopotâmicos e os babilônios acreditavam que os planetas, incluindo o Sol e a Lua, e seus movimentos, afetavam a vida dos reis e das nações. Os chineses tinham crenças similares por volta de 2000 a.C. Quando a cultura babilônica foi absorvida pelos gregos, por volta de 500 a.C., a astrologia gradualmente se espalhou pelo Ocidente.

Por volta do segundo século antes de Cristo, os gregos democratizaram a astrologia, desenvolvendo a tradição de que os planetas influenciavam a vida de todas as pessoas. Eles acreditavam que a configuração planetária no momento do nascimento das pessoas afetava sua personalidade e seu futuro. Esta forma de astrologia, conhecida como astrologia natal, alcançou seu ápice com o grande astrônomo Claudius Ptolomeu (85-165 d.C.). Seu trabalho de astrologia, Tetrabiblos, permanece como a base da astrologia ainda hoje.

A chave da astrologia natal é o horóscopo, uma carta que mostra a posição dos planetas no céu no momento do nascimento (e não da concepção!), em relação às doze constelações do Zodíaco, definidas naquela época como cada uma ocupando 30 graus na eclíptica, e chamadas signos. As posições são tomadas em relação às casas, regiões de 30 graus do céu em relação ao horizonte.


Uma variante popular da astrologia é baseada no signo solar, que usa somente um elemento, o signo ocupado pelo Sol no momento do nascimento da pessoa. É esta que aparece nos jornais e revistas.

A necessidade de conhecimento da posição dos planetas levou ao desenvolvimento da astronomia.

A astrologia não é uma ciência. Assim como a astronomia, ela floresceu na Antiguidade, muito antes da formulação da teoria gravitacional e da teoria eletromagnética e do conhecimento de que todos os astros são compostos da mesma matéria existente aqui na Terra. Não existe matéria “celeste” como acreditava Aristóteles (384-322 a.C.). Mas, ao contrário da Astronomia, ela não incorpora as teorias científicas e assume que a Terra está no centro do Universo, rodeada pelo Zodíaco, e a definição dos signos ignora a precessão do eixo de rotação da Terra .



Devido à precessão dos equinócios, o Sol atualmente cruza Áries de 18 de abril a 12 de maio, Touro de 13 de maio a 20 de junho, Gêmeos de 21 de junho a 19 de julho, Câncer de 20 de julho a 9 de agosto, Leão de 10 de agosto a 15 de setembro, Virgem de 16 de setembro a 30 de outubro, Libra de 31 de outubro a 22 de novembro, Escorpião de 23 de novembro a 28 de novembro, Ofiúcode 29 de novembro a 16 de dezembro, Sagitário de 17 de dezembro a 18 de janeiro, Capricórnio de 19 de janeiro a 15 de fevereiro, Aquário de 16 de fevereiro a 11 de março e Peixes de 12 de março a 17 de abril.

Tanto a teoria gravitacional de Newton e Einstein quanto a teoria eletromagnética de Maxwell comprovam que o efeito dos astros nas pessoas é completamente desprezível, isto é, muito menor do que o efeito dos outros corpos na própria Terra. Naturalmente não estamos falando da luz do Sol, principal fonte de energia na Terra, nem dos efeitos de maré da Lua, e em menor parte do Sol, sobre a Terra. Também não estamos falando do efeito real da colisão de um asteroide ou meteorito com a Terra, que muitas vezes tem consequências catastróficas.

O obstetra que realiza o parto de uma criança exerce uma atração gravitacional sobre ela seis vezes maior do que o planeta Marte, pois embora a massa de Marte seja muito maior do que a do obstetra, o planeta está muito mais distante. O efeito de maré do obstetra sobre a criança é ainda dois trilhões de vezes maior do que o de Marte.

Por falar em distâncias, a astrologia, ao calcular os horóscopos, assume que o efeito dos planetas, como Marte, é o mesmo quando Marte está do mesmo lado do Sol que a Terra e quando ele está do outro lado do Sol, cinco vezes mais distante! Todas as forças conhecidas (gravitacional, elétrica e magnética, força fraca e força forte) dependem da distância. Se o efeito não depende da distância, então qual é o efeito das estrelas, galáxias e quasares?

Os sinais de rádio emitidos pelo Sol e por Júpiter, e em menor quantidade por todos os outros planetas, também sinais eletromagnéticos, são muito menos intensos que os sinais emitidos por uma pequena emissora de rádio de 1 kilowatt a 1000 km de distância. Todos os efeitos eletromagnéticos e gravitacionais caem com o quadrado da distância.

A característica fundamental da ciência é basear-se na observação da natureza e na experimentação. Os efeitos das posições dos planetas e da Lua em qualquer pessoa na Terra nunca foram demonstrados em qualquer estudo sistemático. Nas últimas décadas vários cientistas testaram as previsões da astrologia e comprovaram que não há resultados:

1 — O psicólogo Bernard Silverman, da Michigan State University, estudou o casamento de 2978 casais e o divórcio de 478 casais, comparando com as previsões de compatibilidade ou incompatibilidade dos horóscopos e não encontrou qualquer correlação. Pessoas “incompatíveis” casam-se e divorciam-se com a mesma frequência que as “compatíveis”. O psicólogo suíço Carl Jung (1875-1961), em seu livro “A Interpretação da Natureza e da Psique”, chegou a mesma conclusão.

2 — O físico John McGervey, da Case Western University, estudou as biografias e datas de nascimento de 6000 políticos e 17000 cientistas e não encontrou qualquer correlação entre a data de nascimento e a profissão, prevista pela astrologia.

3 — Um teste duplo-cego da astrologia foi proposto e executado pelo físico Shawn Carlson, do Lawrence Berkeley Laboratory, Universidade da Califórnia. Grupos de voluntários forneceram informações para que uma organização astrológica bem estabelecida produzisse um horóscopo completo da pessoa, que também preenchia um questionário de personalidade completo, pré-estabelecido de comum acordo com os astrólogos.

A organização astrológica que calculava o horóscopo completo da pessoa, juntamente com 28 astrólogos profissionais que tinham aprovado o procedimento antecipadamente, selecionavam entre três questionários de personalidade aquele que correspondia a um horóscopo calculado. Como havia 3 questionários e um horóscopo, a chance de acerto aleatório é de 1/3 = 33%.

Os astrólogos tinham previsto antecipadamente que a taxa de acerto deveria ser maior do que 50%, mas, em 116 testes, a taxa de acerto foi de 34%, ou seja, a esperada para escolha ao acaso! Os resultados foram publicados no artigo A Double Blind Test of Astrology, S. Carlson, 1985, Nature, Vol. 318, p. 419.

4 — Os astrônomos Roger Culver e Philip Ianna, que publicaram o livro Astrology: True or False, (1988, Prometheus Books), registraram as previsões publicadas de astrólogos bem conhecidos e organizações astrológicas por cinco anos. Das mais de 3000 previsões específicas, envolvendo muitos políticos, atores e outras pessoas famosas, somente 10% se concretizaram. Esta taxa é menor do que a de opiniões informadas.

5 — Uma pesquisa coordenada pelo Prof. Salim Simão do Departamento de Produção Vegetal da Universidade de São Paulo, durante sete anos, comprovou que a fase da Lua não tem efeito no crescimento das plantas. (Veja, edição 1638, 1 mar 2000, p. 127).

6 — O médico dermatologista Valcinir Bedin, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo conclui: “Independentemente da fase lunar, a média de crescimento mensal do cabelo é de um centímetro.” (Veja, edição 1638, 1 mar 2000, p. 127).

Portanto, embora mais de 50% da população acreditem em astrologia, trata-se somente de uma crença, sem qualquer embasamento científico.

AO QUE TUDO INDICA...


...NÃO PASSA DE CRENÇA



trechos de: Pensamentos sobre Astrologia: fato ou desejo de acreditar?, de Newton Gonzales

Kit para testar a Astrologia e resultados

“Não sou capaz de dar a um cientista de qualquer idade melhor dica que esta: o tamanho de nossa convicção em uma hipótese ser verdadeira não diz em nada se ela é mesmo verdadeira. A grandeza de nossas convicções é somente para nos providenciar um incentivo proporcionalmente grande em descobrir se tal hipótese permanecerá em pé após um exame crítico.”
Peter Medawar em “Conselho a um Jovem Cientista”

Expus nos capítulos anteriores como nossa mente possui bugs que afetam nosso senso de julgar os acontecimentos que nos cercam e, sem dúvida, deturpam nossa visão de mundo. O dito popular “só acredito vendo” mostra-se insensato, afinal. De maneira alguma devemos nos guiar pelo que costumamos chamar de “intuição”, pois somos passíveis de ser enganados e/ou de aceitar as respostas mais fáceis — somos ainda mais vulneráveis quando um determinado assunto toca em nosso lado emocional. Como disse no prefácio deste artigo, sinto-me confortável em imaginar como seria um mundo previsível, onde teríamos todas as respostas, bastando olhar para o céu. Fiquei de certo desapontado ao descobrir que a Astrologia não funcionava para mim.

Em vista desses fatos, não acredito que os astrólogos todos sejam charlatões. Isto seria uma generalização infundada e mesquinha. Mas minha suspeita é de que a esmagadora maioria deles é composta por pessoas que um dia tiveram em mãos seus respectivos mapas astrais e concluíram que aquilo não poderia ser fruto de um jogo bem tecido de palavras, aliado a nossa percepção vulnerável a falhas — e por isso não os culpo, muito pelo contrário. Ao calcularem os mapas para seus clientes e obtendo consequentemente feedbacks positivos, perpetua-se então um engano que poderia facilmente ser desbancado com uma pausa para refletir: “Ei, espere um pouco! Deixe- me analisar isso direito.”

Desde o alvorecer da raça humana, teorias e teorias têm nascido nas mentes dos pensadores e, sem sombra de dúvidas, mais de 99% delas estavam erradas. A ciência existe para esses casos; é algo palpável ao qual podemos nos agarrar frente a uma inundação de falsas impressões do cérebro. Teorias erradas podem parecer inofensivas, até que sejam tomadas como verdades pelo senso comum. A ausência da ciência para por tais teorias à prova na Idade Média, por exemplo, fez com que muitos fossem ridicularizados por ousarem discordar das crendices comuns sobre a Terra plana e o geocentrismo (e alguns até foram reduzidos às cinzas).

A ciência, segundo Carl Sagan, é muito mais uma maneira de pensar do que um grupo de conhecimentos. Essa maneira de pensar é o que chamamos de “método científico”, que pode ser aplicada a quaisquer áreas da vida, das promessas políticas aos mapas astrais. Sagan, em “O Mundo Assombrado pelos Demônios”, explica:

Na ciência, podemos começar com resultados experimentais, dados, observações, medições, “fatos”. Inventamos, se possível, um rico conjunto de explicações plausíveis e sistematicamente confrontamos cada explicação com os fatos. Ao longo de seu treinamento, os cientistas são equipados com um kit de detecção de mentiras. Este é ativado sempre que novas ideias são apresentadas para consideração. Se a nova ideia sobrevive ao exame das ferramentas do kit, nós lhe concedemos aceitação calorosa, ainda que experimental.

(…)

A confiança em experimentos cuidadosamente planejados e controlados é de suma importância, como tentei enfatizar antes. Não aprenderemos com a simples contemplação. É tentador ficar satisfeitos com a primeira explicação possível que passa pelas nossas cabeças. Uma é muito melhor que nenhuma. Mas o que acontece se podemos inventar várias? Como decidir entre elas? Não decidimos. Deixamos que a experimentação faça as escolhas para nós. Francis Bacon indicou a razão clássica: “A argumentação não é suficiente para a descoberta de novos trabalhos, pois a sutileza da natureza é muitas vezes maior do que a sutileza dos argumentos”.

Barry Beyerstein sugere o seguinte teste para determinar se a aparente validade da Astrologia pode ou não se dever ao efeito Forer, à predisposição para a confirmação, ou a outros fatores psicológicos:

(…) um teste adequado deveria primeiramente obter leituras feitas para um grande número de clientes, e então remover os nomes dos perfis (codificando-os de forma que possam mais tarde ser associados a seus respectivos donos). Após cada um dos clientes ler todos os perfis de personalidade, seria solicitado a cada um que escolhesse aquele que melhor o descrevesse. Se o leitor tiver realmente incluído material unicamente pertinente o bastante, os membros do grupo, em média, devem ser capazes de exceder o esperado pelo acaso ao escolher, do conjunto de perfis, qual o seu.

Beyerstein observa que “nenhum método oculto ou pseudocientífico de leitura de personalidades teve sucesso num teste assim”. De fato, muitos estudos falharam repetidamente em mostrar uma correlação estatisticamente significante entre a posição dos astros e qualquer traço cognitivo, comportamental ou físico das pessoas.

A Sociedade Astronômica do Pacífico publicou um excelente artigo que sumariza os estudos mais confiáveis nessa área. No entanto, a pesquisa mais convincente é a compreensiva bateria de testes com “gêmeos astrais”,ou seja, com pessoas de uma mesma região e que nasceram praticamente ao mesmo tempo nas maternidades. A matéria do Washington Post sobre tal pesquisa diz:

Durante algumas décadas, pesquisadores observaram mais de 2000 pessoas — a maioria delas nascidas com poucos minutos de diferença entre si. (…) Os bebês foram originalmente recrutados como parte de um estudo médico que começou em Londres no ano de 1958 sobre como as circunstâncias do nascimento afetam sua saúde no futuro. (…) Os bebês foram registrados e o desenvolvimento foi monitorado em intervalos regulares.

Os pesquisadores analisaram mais de 100 características diferentes, incluindo área profissional, nível de ansiedade, situação conjugal, agressividade, sociabilidade, QI, habilidade em artes, esportes, matemática e literatura. Os cientistas falharam em encontrar qualquer evidência de similaridade entre os “gêmeos astrais”, no entanto. No relatório publicado no Journal of Consciousness Studies, dizem: “As condições do teste dificilmente poderiam ser melhoradas para um resultado positivo… mas os resultados foram uniformemente negativos.”

A análise desta pesquisa foi feita por Geoffrey Dean, cientista e ex-astrólogo, e por Ivan Kelly, um psicólogo da Universidade de Saskatchewan, Canadá.

Uma abordagem que aprecio em casos como a Astrologia, em que não há evidências concretas, mas apenas achismos, é ver uma situação por um ângulo extremo para pôr à prova a teoria. Este procedimento é bastante adequado para qualquer aspecto da vida e pode render ideias notáveis. Eis algumas perguntas que elaborei e que todos que acreditam na Astrologia deveriam se perguntar:

i) Suponha então que os traços psicológicos de uma pessoa são de certa forma relacionados pela posição relativa entre planetas específicos e a Terra, na hora do nascimento do indivíduo. Porém, nas últimas décadas descobriram-se mais astros dentro de nosso sistema solar, alguns maiores até mesmo que Plutão (Eris, por exemplo) Alguns deles inclusive têm órbitas menores ao redor do Sol, passando bem mais perto de nós que Urano ou Netuno. Esses astros recém-descobertos então podem nos dizer algo. Por que, no entanto, eles nunca são — e nunca foram — citados nos mapas astrais?

ii) Por que a posição dos astros nos diz sobre nossa personalidade somente no nascimento, e não na concepção, que é quando passamos a ser considerados existentes?

iii) Por que não alguns minutos antes de nascermos? A única diferença entre o antes e depois do parto, é que o bebê adquire oxigênio pelos pulmões e não mais pelo cordão umbilical. Nosso destino só é selado pela agenda espiritual, que é nos mostrada pela posição dos astros, quando estamos com os pulmões cheios? Ou precisamos estar fora do ventre, pois nossas mães funcionam como uma blindagem antiespiritual?

iv) Estima-se que a consciência no feto surge por volta do sexto mês de gestação. Isto quer dizer que, antes de nascer, o bebê possuía uma ausência completa de personalidade?

v) Por que gêmeos univitelinos, que nascem na mesma hora, têm personalidades diferentes?

vi) As colônias interplanetárias poderão ser uma realidade no futuro. Um dia o ser humano habitará outros planetas. Suponhamos que um indivíduo tenha nascido em Marte. Tal planeta deixaria de entrar em seu mapa astral e, por consequência da localização, a posição relativa da Terra passaria a ter alguma relação astrológica sobre o indivíduo?

vii) Se uma criança nascer em uma maternidade localizada em outro sistema solar, quais astros passarão a fazer parte do mapa astral do indivíduo? Os que estão próximos à Terra, berço de sua raça, ou os planetas deste outro sistema solar?

viii) E se este mesmo sistema solar possuir somente um planeta: aquele no qual o indivíduo nasceu? Ele terá uma personalidade regida somente pelo signo solar?

ix) E se nascermos em uma nave no espaço sideral, fora do alcance de quaisquer sóis ou planetas? Haverá uma ausência completa de personalidade, assim como o feto na visão da Astrologia?

x) Plutão possui uma órbita excêntrica, permanecendo ora distante, ora um pouco mais próximo de nós. Contudo, os astrólogos afirmam que a distância dos astros em relação à Terra não interfere: independente de quão longe um astro pode estar, o que vale é a relação entre ângulos. Se isto for verdade, por que outros planetas da nossa galáxia não nos dizem nada nos mapas astrais?

xi) Se nossa Lua faz parte do mapa astral, porque as luas dos outros planetas do sistema solar não fazem?

xii) Apenas a raça humana é regida pelo calendário dos astros, ou outros animais também teriam um mapa astrológico? Se sim, por que filhotes da mesma ninhada, que nasceram praticamente ao mesmo tempo, têm personalidades tão distintas?

xiii) Tomemos os animais ovíparos. A personalidade astrológica seria definida no momento em que o indivíduo passa pela cloaca da mãe ou na primeira rachadura da casca do ovo em que se encontra?

Todas essas perguntas podem não ter um sentido ou propósito imediato, já que algumas delas não interessariam a alguém que tem fé na Astrologia. No entanto, mesmo as perguntas sem sentido servem para que novas ideias apareçam e coloquem uma teoria à prova. Saber se Marte diz algo sobre personalidade dos animais ovíparos pode não ter utilidade prática, mas uma análise racional dessa ideia ajudaria a desvendar qual é o mecanismo de atuação com que a Astrologia sugere trabalhar. Steven Levitt, autor de Freakonomics: A rogue economist explores the hidden side of everything, diz em seu livro: “Uma vez que façamos perguntas suficientes, por mais estranhas que pareçam no momento, acabamos por aprender algo que valha a pena.

Lembre-se que basicamente toda a Física moderna começou com um simples exercício mental como esse, e foi proposto por Albert Einstein mais ou menos da seguinte maneira: “Imagine um elevador. Agora imagine que esse elevador pode viajar pelo espaço. Agora imagine que ele está na velocidade da luz, e você se encontra dentro dele (…)”.

Considerações finais

Eu seria extremamente presunçoso e pedante se ousasse escrever alguma conclusão concreta sobre algo que, hoje em dia, é aceito entre os meios populares praticamente como uma religião. Portanto, ao invés de concluir algo per se, quero apenas fazer algumas considerações finais sobre o tema.

Não quero dizer que a Astrologia é uma maldição destruidora de lares. Pelo contrário, aparentemente ela serve inclusive como um recurso para psicólogos. É sempre bom exercitar a autoanálise, olhando para dentro de si e depurando quais são as suas próprias qualidades, assim como os próprios defeitos e como eles podem ser melhorados (outro fator que deveria ser corrigido: mapas astrais dificilmente apontam os defeitos das pessoas). Um estudo de si mesmo, na intensidade como os crentes na Astrologia o fazem, economizariam muitas horas de divã, mesmo que as descrições caibam a qualquer um.

Mas mesmo que possivelmente haja um lado bom na Astrologia, eu percebi ao longo dos anos que é muito mais prazeroso o deleite da verdade científica do que a do místico. É certo abrir mão de investigar a verdade cientificamente, apenas porque ela parece menos divertida e atraente para você no momento? Em uma passagem de “Círculo das Estações”, Edmund Way Teale diz:

Moralmente é tão mau não querer saber se algo é verdade ou não, contanto que você se sinta bem, como o é não querer saber de onde vem seu dinheiro, contanto que ele esteja em suas mãos.

O "malvado!"
Determinadas crenças parecem inofensivas, até que o indivíduo misture “alhos com bugalhos” e deixe que ela se apodere de todas as decisões de sua vida, deixando a racionalidade encostada em algum canto escuro da mente. Não é incomum conhecer pessoas que não se misturam com outras de determinado signo. Em comunidades de Astrologia no Orkut, inclusive, é possível emergir preconceitos contra pessoas sob determinado signo (em sua maioria, sabe-se lá por que raios, Escorpião).

Na Áustria, algumas empresas selecionam seus futuros funcionários baseando-se em seus mapas astrais. Já testemunhei uma garota abrir mão de sua possível felicidade ao dispensar um garoto do qual ela gostava “por ter um signo incompatível com o dela” (apesar disso parecer mais uma desculpa esfarrapada). Se ao menos ela soubesse que existem casais com signos incompatíveis que estão juntos há anos, ou que a taxa de divórcios é igual para signos compatíveis e incompatíveis…


"O seu signo não combina com o meu!"
Alguns dirão que ser cético também é tão religioso quanto acreditar na Astrologia. Contudo, isto é tão incoerente quanto afirmar que a calvície é uma cor de cabelo. Salve todas as diferenças entre as duas coisas, a principal é a que o ceticismo não acredita em uma teoria sem evidências, e as evidências não são analisadas através de interpretações humanas, mas através de inúmeras etapas impessoais pelo método científico, justamente por ter-se noção de que nós todos, na condição humana, estamos sujeitos a inúmeras falhas cognitivas. Nossos sentidos nos pregam peças e isto é mais do que sabido. Thomas Henry Huxley comenta:


Acredite em uma testemunha de maneira que nem o interesse dela própria, suas paixões, seus preconceitos, nem seu amor pelo misterioso estejam em evidência. Quando estes elementos estão envolvidos, exija uma evidência corroborativa na exata proporção à aversão da probabilidade pela coisa testemunhada.

Como Henri Poincaré disse em A Ciência e a Hipótese: “Duvidar de tudo ou em tudo crer são duas soluções igualmente cômodas, que nos dispensam, ambas, de refletir.” Os cientistas não fazem parte de um clube restrito e sabem que eles não detém a verdade absoluta, e que a qualquer momento velhos paradigmas serão quebrados por teorias completamente novas.

Ao contrário do que pode parecer, o método científico como o conhecemos atualmente é uma novidade para o ser humano, pois nasceu há apenas alguns séculos. Desde o berço da raça humana, todos os fenômenos naturais que não pudessem ser explicados eram atribuídos a elementos divinos: relâmpagos são jacarés de fogo que cruzam o céu; ataques epiléticos são possessões demoníacas; tsunamis são o castigo de Deus sobre um país pagão; deficiências congênitas são características de uma divindade encarnada; relâmpagos esféricos são discos-voadores; gases fluorescentes do pântano são fantasmas e pessoas esquisitas são aquarianos. A ideia de que a Terra era plana, o centro do Universo e de que o movimento das estrelas era consequência do grande motor que não se movia — leia-se o deus cristão — era justamente defendida pela Igreja Católica e encontrava grande aceitação entre a população. Os cientistas, que afirmavam o contrário e expunham evidências lógicas, eram apedrejados pelo povo, assassinados na fogueira por heresia ou confinados a prisão domiciliar perpétua.

A ciência não impõe obstáculos sobre novas teorias, tampouco menospreza novos pontos de vista, desde que façam algum sentido; ou seja, o proponente da teoria deve ter alguma maneira de demonstrar que ela não é pura fantasia. Portanto, se a suposta teoria que permeia a Astrologia carregasse consigo alguma prova de sua validade, certamente seria recebida de páginas abertas nos livros de Ciências.

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