23.4.11

As plantas sentem dor quando as comemos? Uma ética maior

Vamos tocar num assunto muito conhecido no debate entre carnívoros e vegetarianos/veganos: as plantas. Esse tema não é novo, em 2006 escrevi um pequeno ensaio que rodou a internet e incentivou alguns amigos a pensarem sobre o assunto e hoje, alguns anos depois, posso ver como ainda desconhecia muita coisa, por isso é preciso muito cuidado com o que vai ser respondido, pois nosso futuro pode sempre mudar. Muitos estudos já se baseiam na inclusão delas em nossa esfera moral e, embora possa parecer complicado, não é impossível que tal fato venha há ocorrer daqui a alguns anos. Mas a questão das plantas continua sendo uma das melhores “armas’” de defesa para pessoas que se negam a aceitar o fato de que os animais sofrem ao serem explorados. A grande maioria, não sabendo como se defender do que é obvio frente aos olhos de qualquer pessoa, mas que as assusta ao ponto tentarem ridicularizar os próprios amigos, indagam sempre a mesma coisa: “Vocês não comem animais, mas e as plantas, afinal, elas também são seres vivos e sentem dor!?” Mal sabem elas que armam uma perigosa armadinha contra si mesmas, porque desconhecem tal assunto, e porque uma ética para as plantas, exige antes do que qualquer outra coisa, uma ética para com os animais.



Até quando vamos buscar por uma ética antropocêntrica, centrada no homem, enquanto que a verdadeira ética jaza moribunda debaixo do nariz de cada um?

Não comemos animais somente porque sabemos que eles sentem dor ou prazer, mas porque, tal como nós, possuem o interesse em permanecerem vivos. Não sabemos ainda se as plantas sentem realmente dor, mas sabemos que elas possuem uma singularidade conosco e com os animais: o mesmo “desejo” de permanecerem vivas. E o Biocentrismo acata a esse “desejo”, colocando-as como seres aceitáveis dentro de nossa comunidade moral. É, porém, uma nova ética a ser ainda estudada, debatida e compreendida, mas demonstra o avanço rumo à moralização humana, moralização que se iniciou há muitos séculos atrás quando deixamos de acreditar que as mulheres não possuíam alma, depois os negros, os indígenas e agora com a recusa a exploração animal, é assim que a ética trabalha, mudando a moral e as antigas tradições, restaurando e mudando conceitos, dando mais eticidade aos seres para que possam conviver em harmonia com o Planeta.

A questão, para o momento, pois nem todos conseguiram alcançar o grau biocêntrico ainda é: as plantas sofrem tanto quanto os animais? Cientificamente já foi comprovado que animais em geral, e vamos frisar aqui os peixes que algumas pessoas insistem em dizer que sofrem menos, todos sentem dor, sentem medo e fogem daquilo que os ameaça. Todos buscam pela preservação da vida, ao menos nesse primeiro momento é incomparável a dor que notamos nos animais diante da comparação que podemos fazer com as plantas. Porém, ao contrário do que possamos ter lido ou ouvido falar, as plantas não são como objetos, pratos, talheres ou carros. Elas buscam a melhor forma de viver, de sobreviver ao meio que as cerca, evoluíram assim como os animais num território extremamente feroz e competitivo e são, também como os animais, seres pluricelulares3 que também, ao contrário do que achávamos há alguns anos e do que muitos ainda hoje insistem em dizer, não são seres totalmente inertes e passivos diante das agressões externas que possam vir a sofrer, sejam doenças ou insetos, pois desenvolveram mecanismos de defesa que são acionados diante de qualquer agressão. O fato de não poderem fugir quando são queimadas, por se tratarem de organismos sésseis4, não significa que estejam totalmente impassíveis ou que sejam seres inanimados diante de determinadas ameaças. Como as víboras, escorpiões e aranhas, as plantas também possuem seu próprio arsenal químico, com venenos tão tóxicos que podem, igualmente aos de aracnídeos e serpentes, levar os animais humanos a morte se houver desrespeito em relação a elas. O mecanismo pelo qual elas reconhecem as agressões talvez ainda não esteja totalmente descrito, porém, apenas o fato de sabermos que elas buscam esses mecanismos, que buscam o Sol para realizarem a fotossíntese a fim de continuarem vivendo, já deixa claro que não são objetos inanimados. Evoluíram, cada qual ao seu tempo, de folhagens apenas, para flores, porque descobriram a necessidade de se tornarem chamativas aos insetos que as polinizam, criaram cores e odores, e ainda evoluem.

A grande maioria das pessoas ainda não consegue vê-las como seres vivos, mas apenas como artigos de paisagismos, desconhecendo e desrespeitando muitas vezes suas reais necessidades de sobrevivência (reprodução, defesa a agressões, respiração, etc.). O conhecido diretor de cinema M. Night Shyamalan, contou numa entrevista, que antes de realizar seu filme “Fim dos Tempos”, estudou sobre os mecanismos das plantas e ficou surpreso ao descobrir como elas, esses seres vistos como inanimados, reagiam diante de ameaças e como haviam desenvolvido sistemas incrivelmente complexos para lidar com problemas:

“Um campo de algodão, por exemplo, ao ser atacado por um parasita por um dos lados, envia um sinal para o outro para avisar a tempo que está sendo atacado e para que as plantas do lado de lá liberem algum tipo de substância química contra os predadores. É um sistema de comunicação impressionante. ”

De onde provém essa estratégia de defesa das plantas, seja por barreiras físicas ou químicas? A excreção de substâncias, a produção de enzimas, proteínas e de fitoalexinas? É inegável que as plantas demonstram vida ao crescerem, se desenvolverem e reagirem diante de estímulos exteriores, retorcendo-se para escapar da escuridão em busca de um raio de Sol, da qual dependem para sobreviver. Sua interação com o mundo se dá através das cores de suas flores, algo que desenvolveram ao longo de sua evolução conforme suas próprias necessidades, dos espinhos que afugentam, das toxinas, da doçura de sua seiva que lhes permite a polinização através do pólen e de sementes, da sinalização através de odores repulsivos ou adocicados, uma complexidade que não pode ser totalmente ignorada; diante dessa luta pela autopreservação até mesmo a senciência acaba se tornando irrelevante7, descobrir como lutam para sobreviver, como conseguem se comunicar com outras a distância, mesmo que através de agentes químicos ou elétricos para que não sejam devoradas, é uma coisa a ser totalmente desvendada pela biologia; até pouco tempo havia quem achasse que os animais também não eram sencientes, ou seja, não sabemos tudo, não podemos julgar o que desconhecemos, não sendo possível afirmar que a planta não tenha qualquer interesse, posto que para sobreviver ela se aperfeiçoa, se protege e se torna mais atrativa, tudo com um propósito, o que a leva a isso ainda nos é desconhecido. Se usarmos da senciência para separarmos o que deve viver ou não, cairemos na mesma questão que levou Peter Singer a ser proibido de realizar palestras na Alemanha por defender a senciência como base/cisão, criando uma brecha para que fossem aceitos tanto a eutanásia quanto o aborto, por tratar-se nesse caso, do feto ainda não ter interesse nem ser senciente, e não podemos esquecer que até pouco tempo, muita gente também afirmava que os animais igualmente, não tinham qualquer interesse, apenas existiam.

“Embora o feto, depois de certa altura seja capaz de sentir dor, não há fundamento para julgá-lo racional ou autoconsciente. [...] bebês humanos não nascem conscientes nem capacitados a entender que existem no tempo”

Não queremos comparar as plantas com animais, sejam eles humanos ou não-humanos, o interesse aqui é apenas demonstrar que a senciência não é mais uma fonte tão segura para nos espelharmos na defesa da vida em si. Será que já compreendemos tão bem assim o significado da frase: “Valor da vida”? Antes nossa compreensão nos permitia dizer que apenas a vida humana possuía valor, com o tempo descobrimos que a vida dos animais igualmente possuía valor, aos poucos o Biocentrismo nos mostra que qualquer vida possui bem inerente, sendo assim, nos surge outra questão: assim como a razão foi um dia a fronteira entre homens e animais, por que hoje, apenas a vida dos sencientes deveria ter valor? Será que alcançamos um patamar de conhecimento tal, que a senciência deva mesmo ser a última fronteira a definir o limite para a expansão de nossa comunidade Moral?

“A Terra é um estágio muito pequeno numa vasta arena cósmica. As nossas presunções, a nossa imaginada auto-importância, a ilusão de que nós temos alguma posição privilegiada no universo são desafiadas por este ponto de luz pálida”. (Carl Sagan)

Esse mesmo astrônomo também afirmou um dia, que as plantas eram nossos parentes distantes, e que nós e os animais nada mais éramos do que simples parasitas delas. “As plantas são o resultado. [...] os animais, tal como os seres humanos, são parasitas das plantas. ” E um pouco mais adiante ele prossegue, numa frase que seria própria a moral e a ética biocêntrica, embora ele mesmo ainda não o fosse. “Houve o surgimento de uma organização celular semelhante às células atuais, que se tornou o ancestral comum de plantas e animais; o que implica em um distante grau de parentesco entre o ser humano e as plantas que o rodeiam. Logo, quando o homem corta uma árvore, está destruindo um parente distante; ou próximo [...] Nós, seres humanos, parecemos bem diferentes de uma árvore. Sem dúvida, percebemos o mundo de uma maneira bem diferente de um vegetal. Mas no fundo, no íntimo molecular da vida, árvores e nós somos essencialmente idênticos. Consideremos a enorme diversidade de formas de vida na Terra, todas compartilhando do mesmo planeta e de idêntica biologia molecular.”

Ou seja, apesar da diversidade de seres que existem nos mais variados reinos, todos apresentam o mesmo material genético que proporciona o bom funcionamento da vida. Não seria o caso então de revermos antigos conceitos, de fazermos uma limpeza moral, ética e estrutural em nós mesmos? Uma revisão na busca pela verdade que nos faça, de certa maneira, abandonarmos qualquer conhecimento que possa nos trazer o mais leve erro interpretativo, afinal, o biocentrismo já colocou a senciência em dúvida; Seria mesmo ela a última barreira? Será que ainda devemos, como Aristóteles e Descartes, continuar acreditando que a razão é o que nos separa dos demais ou que somente porque pensamos é que existimos? Sabemos que esses mesmos pensamentos culminaram em maior desrespeito pelos animais e que ainda hoje, são os principais responsáveis pelo especismo, afinal, como os animais não possuíam uma linguagem falada significava para Descartes, que também não pensavam, não conseguindo pensar, nada mais seriam do que máquinas insensíveis9. O que nos leva a notar claramente que muitos hoje possuem essa mesma visão em relação às plantas por elas não “sentirem”, não se locomoverem e não pensarem; mais uma vez repetimos pensamentos antigos em relação a seres que ainda desconhecemos. Fica ainda mais fácil notarmos a comparação ao colocarmos o pensamento de Descartes sobre os animais e posteriormente o compararmos com o que hoje, muitos autores se referem quando tratam do assunto “plantas”.

Para o filósofo, os animais não eram seres autoconscientes, não possuíam faculdades cognitivas ou linguagem inteligível, não possuíam interesse e nem sabiam que existiam no mundo; Descartes por sua vez, evitava usar o termo “animais” para cães, gatos ou macacos, que eram rotulados por ele como “bestas”, que nada mais eram do que seres autômatos mecânicos – embora, como nas plantas, fosse perceptível um “comportamento intencional” como o de buscar comida ou reagir ao perigo – o que causou uma perturbadora implicação no uso dos animais: “Com efeito, no século subseqüente ao da morte de Descartes, seus seguidores celebrizaram-se pelo tratamento cruel que davam aos animais no curso da pesquisa experimental em fisiologia; sabemos que o próprio Descartes praticava a vivissecção com aparente serenidade”. (Dicionário Descartes de John Cottingham)

“Parece seguir-se daí que, uma vez que os animais não são coisas pensantes, são eles meras massas de matéria extensa – complexos, é verdade, na organização de suas partes, mas completamente destituídos de qualquer coisa a que se pudesse chamar consciência. A importância da linguagem, como “o único sinal seguro de pensamento interior”, foi salientada por Descartes como crucial evidência da ausência completa de pensamento nos animais. ” (Dicionário Descartes de John Cottingham)

Muitos autores hoje colocam o mesmo sobre as plantas e ensinam veganos e vegetarianos a pensarem assim, o fato de não sabermos como reagem nesse caso parece não ser levado em consideração, elas são consideradas seres desprovidos de qualquer interesse e consciência, o que as torna seres insensíveis e para alguns, inanimados, quase objetos, se antes havia a teoria do animal-máquina, hoje as plantas tomaram esse lugar e se tornaram plantas-máquinas; mesmos pensamentos para outros seres singulares10. Se antes a razão dividia os seres, hoje a senciência é que ocupa esse lugar, mas então nos surgem novas e novas indagações: se a planta busca o Sol para poder sobreviver, o faz “mecanicamente” ou porque reconhece, de alguma forma, que o Sol lhe é benfazejo? Se “reconhece” é porque seria senciente? Se lhe é possível reconhecer as ameaças a sua sobrevivência, o faz de que modo? Como se comunica, como “sente” essa necessidade de expelir odores ou criar espinhos para se defender? São questões que ainda estão sendo estudadas e que não nos permitem afirmar categoricamente, que sejam realmente seres desprovidos de qualquer sensibilidade.


“Se a capacidade racional, a linguagem conceitual e o pensamento lógico forem critérios morais distintivos, isto é, indicadores de quem é digno de consideração moral, ou não, esses critérios excluem do âmbito da comunidade moral não apenas todas as espécies vivas não-humanas, mas também muitos humanos que não possuem as habilidades típicas, ou que já as perderam, por doença, idade ou acidente. Considerando-se que a ética e a justiça são a expressão máxima da razão humana, norteada pelo princípio da igualdade, a discriminação moral de seres semelhantes, por parte dos humanos, deve ser questionada. ” (Sonia T. Felipe)

“Nem a racionalidade nem a capacidade para sentir prazer e dor me parecem condições necessárias (embora possam ser suficientes) para a consideração moral. (…) Nada menos que a condição de estar vivo me parece um critério plausível e não arbitrário. ” (Kenneth Goodpaster)

O fato de aceitarmos que um ser tão renegado quanto às plantas possa um dia vir a ser respeitado como um ser que busca a vida, nos trará ainda mais força na lua pelos Direitos Animais, já que os animais são seres sencientes, que se movimentam, que fogem da dor, que buscam carinho. Ao aceitarmos que sim, como nos dizem os onívoros, que as plantas sofrem, temos ainda mais força para questioná-los porque então não pararam ainda de explorar os animais, já que possuem plena consciência de que o sofrimento das plantas também é importante e deve ser diminuído até que não mais exista. Esse pensamento de compaixão que eles dizem possuir pelas plantas seria ainda mais benéfico em relação aos animais, o que os deixaria numa posição muito incômoda afinal, a preocupação com as plantas requer um grau de sensibilidade ainda maior do que aquele que temos em relação aos animais.

Assim como coloquei em ensaio anterior sobre as plantas, sabemos que no momento devemos praticar a velha frase que nos diz: “Dos males o menor”. Somente essa frase bastaria para vencer esse argumento. O animal sofre, eu vejo, a planta eu ainda “imagino”, mas é com certeza um salto gigantesco passarmos direto do onivorismo para o biocentrismo e como estamos aprendendo a cada dia, nos moralizando a cada dia, do onivorismo passamos para o vegetarianismo e/ou para veganismo e um dia, quem pode dizer quando, para o Biocentrismo, o certo é que, no momento no qual nos encontramos devemos sempre nos questionar: diante de nossos olhos de aprendizes da harmonia com o Planeta e com os seres que nele vivem, qual sensibilidade nos toca mais? As Plantas sofrem? Claro, porque criam mecanismos de defesas contra doenças que, de algum modo elas “sabem”, poderiam matá-las. E os animais, não sofrem? Fazemos o primário antes da faculdade ou fazemos a faculdade antes do primário? Se já somos biocêntricos é porque já passamos pela fase do veganismo, não há qualquer outra saída para essa questão.

Na verdade o argumento das plantas é a fuga mais fraca que pode ser usada contra os veganos, não há porque temer tal questão, ela só rebaixa mais a pessoa que pergunta do que o vegano que luta por uma ética melhor. Não há porque alegar sobre SNV (Sistema Nervoso Central), sinapses, sobre a dor que podem ou não sentir, sobre lóbulos ou córtex cerebrais, nem sua individualidade ou racionalidade de escolher o que desejam. O Biocentrismo derruba tudo isso quando coloca a Vida, como “Bem primordial”, e se somos capazes de pensar nos animais, pensaremos um dia nas plantas e se eles se preocupam mesmo com as plantas ao questionarem sobre elas a um vegano, nada mais provam do que sua total ignorância sobre o assunto. Não é possível ter compaixão pelas das plantas e continuar devorando animais, isso sim é irracional.

Talvez agora ainda não possamos defender o biocentrismo com o mesmo grau de força com que lutamos pelos Direitos Animais, embora haja quem já o defenda, mas com certeza ele não deve ser um assunto que deva permanecer escondido, aguardando o momento certo para aparecer, ele pode ser discutido, ampliado, estudado de forma a que, quando chegue sua hora, não tenhamos que nos debater novamente sobre antigas questões como razão, sensibilidade, senciência, porque as barreiras que erguermos hoje contra as plantas, seguramente um dia terão que ser derrubadas por aqueles que virão depois de nós.

Um degrau de cada vez todos subiremos ao topo da harmonia planetária e, assim como ocorre hoje com a abolição animal, sabemos que o Biocentrismo vai acontecer, e tal como está sendo difícil propagar pelo Planeta o fim da crueldade contra os animais, será difícil fazer o mesmo em relação às plantas, o que não podemos é fechar os olhos e estacionarmos na abolição animal como se ela fosse a última barreira a ser quebrada, porque estamos igualmente em evolução e caminhar por essa trilha pedregosa chamada ética, será sempre nosso objetivo. A intenção agora é fazer surgir na mente de cada um, uma nova reflexão que nos leve a questionar quais seriam as reais condições para que qualquer espécie possa ou não ser incluída em nossa comunidade moral, o objetivo não é se vamos ou não levantar a bandeira de uma ética Biocêntrica, mas impedir que as portas se fechem para ela bem como para qualquer um dos seres sésseis. Talvez ainda não tenhamos alcançado o biocentrismo, mas alcançaremos, assim como todos um dia alcançarão o veganismo, é assim que caminhamos sem nunca parar. O Biocentrismo virá para nós assim como o veganismo para os onívoros, talvez não seja o caso de lutarmos agora, talvez seja, quem pode dizer, pois sabemos que é preciso vencer uma guerra de cada vez, talvez também não seja o caso de nos incomodarmos tanto com quem questiona sobre as plantas, porque sabemos que é o medo da mudança que os faz agir assim e questionarem sobre coisas as quais eles desconhecem, sabemos que eles não querem ouvir a verdade sobre o que fazem e que não possuem outra munição a não ser os velhos chavões de sempre, para eles a vida dos animais é insignificante, tanto quanto a vida das plantas, afinal, basta questioná-los: eles são biocêntricos? São sim, seres antropocêntricos, que não conseguiram ainda reverenciar a Natureza, acham-se acima dela, sem contudo saberem que quando a destruírem, farão isso a eles e aos seus.

“Se a vida, a liberdade e a vulnerabilidade são critérios morais relevantes, e, se o sujeito moral deve considerar os sujeitos dessas características merecedores de apreço moral, suas decisões, projetos, ações e interações não podem violar nem prejudicar sujeitos vivos, livres e vulneráveis, pois essas características incluem no âmbito da comunidade moral todos os que as possuem, ainda que apenas na condição de pacientes e não de agentes morais” (Paul Taylor).

Se as plantas são agentes morais ou pacientes morais, se temos deveres morais ou não com elas, talvez ainda seja cedo para sabermos, já que a grande maioria do rebanho social precisa ainda aceitar que os animais devem sim, ser incluídos em nossa comunidade moral, porém o que deve ficar claro é que elas não podem, mais adiante, ficar fora dessa discussão, nem podem ser comparadas com objetos que nada sentem e nada buscam, elas estão vivas e possuem algo que as impele a lutar pela sobrevivência, se é algum tipo de consciência ou senciência, só o tempo nos dirá; o que devemos como abolicionistas, é jamais erguer barreiras mecanicistas porque sabemos hoje, o que tal atitude no passado, nos acarretou: o total desrespeito pelos animais. Devemos nos guiar, ao menos nesse primeiro momento, pelo princípio de nos alimentarmos de forma a causar o mínimo sofrimento possível, o que significa evitar a matança de animais e seres de consciência mais desenvolvida. Não repetir os mesmo erros é tornar o futuro um campo aberto para a moralidade e a ética da humanidade. Esse com certeza é o maior de todos os desafios da ética.


Referências Bibliográficas


DESCARTES, René- Discurso do Método / Meditações
FELIPE, Sonia T. – Da Considerabilidade Moral dos Seres Vivos: A Bioética Ambiental de Kenneth E. Goodpaster
ARANTES, Tadeu – A mente oculta das plantas. A ciência descobre o surpreendente domínio da consciência vegetal- Disponível emhttp://galileu.globo.com/edic/98/conhecimento5.htm
SINGER, Peter – Ética Prática / Vida Ética
RAVEN, P. H. ; EVERT, R. F. ; EICHHORN, S. E. – Biologia Vegetal. – 7º. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007
COTTINGHAM, John – DICIONÁRIO DESCARTES – Jorge Zahar Editor – RJ
PINHEIRO, Márcia. – A defesa das plantas contra doenças- Laboratório de genética Molecular Vegetal – Depto de Genética.
SCHULTE, Neide Köhler – Da estética a ética ambiental Biocêntrica
SAGAN, Carl – Ligações Cósmicas
Entrevista de M. Night Shyamalan à George Musser, da Scientific American; Disponível em: http://www2.uol. com.br/sciam/artigos/eu_vejo_pessoas_condenadas.html


Notas



2 Biocentrismo, é uma ética que tira dos animais humanos toda sua falsa superioridade, colocando-os como iguais diante de qualquer ser que busque sobreviver, que busque a vida; um ponto de equilíbrio entre todos os seres vivos.

3 Entretanto, têm uma característica que as distingue desses seres – são autotróficas. Autotróficos são aqueles que produzem o próprio alimento pelo processo da fotossíntese.

4 Organismos que não possuem capacidade de se locomoverem, vivendo presos a qualquer substrato, foram durante muito tempo, interpretados erroneamente, como se tais organismos não pudessem, de forma alguma, reagir a agentes externos, sendo que é possível as plantas reagirem a insetos e a outras plantas.

5 Barreiras químicas são as toxinas que uma grande variedade de plantas possuem, um exemplo seria a citronela que espanta os insetos, já as barreiras físicas, como veremos, são os espinhos, as ceras, a espessura das folhas, que as impeçam de serem devoradas.

6 Fitolalexinas são conhecidas como substâncias repelentes produzidas pelas plantas, possuem inibidores contra fungos e são tóxicos para animais.

7 Nota-se aqui a planta não necessita ser senciente para reagir diante daquilo a qual se sente ameaçada, nem necessita dela para sobreviver como tem sido colocado por algumas pessoas. Embora as plantas não possam fugir, “criam” mecanismos para afastar os agentes agressores, o fato de não poderem se mover não as torna menos insensíveis a agentes externos, e não podemos desta feita, sair alegando que algo que não conhecemos não possui interesse quando vemos, que cria sozinha, mecanismos de defesa; não se pode julgar aquilo que não se compreende. Como ocorre tal mecanismo, é a questão não esclarecida pela ciência ainda, e que nos leva também a imaginar o porque de, mesmo desconhecendo a verdade, afirmarmos que elas não merecem nenhuma consideração que não seja a mesma com a qual julgávamos os animais há anos atrás, ou seja: Matar um animal ou arrancar uma árvore, qualquer dos dois atos fará mal a mim ou não? Não importando nesse caso, se fará mal à eles.

8 Segundo Paul Taylor, deve ser atribuído apenas a entidades possuidoras de bem próprio, seu reconhecimento é declarado de dois modos: independentemente de uma entidade ser valorizada de forma intrínseca ou instrumental, por algum avaliador humano; independentemente de uma entidade ser de fato útil para a busca da realização do bem de algum outro ser, humano ou não-humano, consciente ou não-consciente. Portanto, na teoria de Taylor, se um ser vivo possui bem inerente, este possui tal valor independentemente de qualquer valor instrumental ou inerente, e sem referência ao bem de qualquer outro ser. Se considerarmos as pessoas como possuidoras de bem inerente, então todas elas possuem o mesmo valor, sendo que é a personalidade a base de seu valor. É possível estabelecer a verdade da afirmação, de que uma pessoa possui bem inerente, ao mostrar que apenas esta forma de considerar as pessoas é coerente com a concepção de toda pessoa, como um ser racional, valorizado um centro autônomo de vida consciente. O mesmo tipo de argumento, segundo Taylor, também sustenta a afirmação de que todos os animais e plantas, no mundo natural, possuem bem inerente. ( Neide Köhler Schulte- Da estética a ética ambiental biocêntrica)

9 O Cogito (Penso, logo existo) não demonstrava, contudo, que os animais não eram seres vivos, tal como ninguém hoje descarta que as plantas o sejam, porém que os animais nada mais eram do que “vidas” ligadas a processos de natureza puramente mecânicos, assim como muitos acreditam que hoje, as plantas o sejam.

10 Talvez uma das maiores singularidades entre nós e as plantas seja o fato de que, tanto elas quanto os, animais, serem seres pluricelulares: “Os vários sistemas ou aparelhos – como o circulatório, o respiratório, o esquelético, etc. – constituem o organismo. São organismos: um pé de alface, uma laranjeira, um lobo ou uma ameba. No caso da ameba, que é unicelular, não encontraremos todos os níveis de organização, visto que, não existem tecidos, órgãos ou sistemas.


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