14.4.11

Filosofia, ciência e vegetarianismo - divagação

Chatinhos??
Começo dizendo que TEM mesmo muito vegetariano alienado e CHATO, que utiliza argumentos inócuos e repetitivos para justificar sua opção alimentar. Outra chatice comum é se afiliar a grupos vegetarianos, compras camisas antio-carnivorismo e ir vestido com elas para um churrasco de amigos. Esses são os antipáticos "pregadores" vegetarianos, que ninguém quer ao redor.

Acredito, contudo, que existem vegetarianos BEM menos chatos (temos que admitir que somos todos, ao menos, um pouco chatos, rs).

Outro grupo desprezível são os vegetarianos "agressivos" (isso vale também para os carnívoros agressivos) que tratam os diferentes com um "ar" de desprezo, xingamentos indiretos, etc. Repudio esses vegetarianos. Repudio esses carnívoros. Sou a favor de um diálogo construtivo, educado e bem humorado. Sou totalmente contra coisas do tipo  http://meavelsfoundation.blogspot.com/, que, apesar de engraçado, é OFENSIVO. Ofensa não é construtivo.

O grupo que realmente me preocupa, tirando esses vegetarianos REALMENTE CHATOS e ALIENADOS,  são os que adotaram o vegetarianismo por questões  éticas (bio-sócio- ético-bláblá-existenciais- espirituais). Não me excluo deste grupo. Portanto, tentarei esclarecer.

Dawkins chateado com algum religioso
Todo bom cientista sabe que por trás de seu fazer científico subjaz uma filosofia. A "filosofia são os escombros da ciência", diria o epistemólogo brasileiro Hilton Japiassu. Um exemplo de ciência mal feita, por exemplo, são os (pseudo)cientistas que "escolhem" ser ateus simplesmente porque "ciência e religião não combinam, não interagem eficientemente" . Uma coisa é ser ateu por uma escolha "realmente"  pensada, elaborada - outra é ser ateu simplesmente por não compreender que a base filosófica do fazer científico atual é ríspida com certos elementos religiosos (como dogmas, etc). Esses (pseudo)cientistas acabam engrossando a lista de fãs de um "Richard Dawkins da vida" que, no meio de algumas boas reflexões, acaba falando bobagens quando explana sobre ciência geral.

Enfim, por que me meti a falar disso quando eu tratava de vegetarianismo?

Simples: creio que a opção ética pelo vegetarianismo (especialmente sobre a questão do "especismo") precisa se sustentar numa filosofia sólida e pertinente, e não simplesmente numa repetição infindável de argumentos recebidos das bocas e de blogs de outrem. Como no caso da ciência, de se tornar (bons) cientistas, o mesmo vale para o vegetarianismo. É preciso compreender e escrutinar profundamente as razões éticas, ainda que, por vezes, altamente sentimentalóides (p. ex. "Ah! amo os bichinhos!), que levam cada qual a pautar seu vegetarianismo na ética anti-especista. No meu caso -  posso dizer - a razão de ser é a filosofia budista.

Uma imagem tem percorrido, ultimamente, sites anti-vegetarianismo, minando o argumento de "amor aos bichinhos". Há, de fato, alguma razão na imagem; mas a propaganda não vale o preço que vende. Por que?


Para responder, vou utilizar uma frase que é referida ao Buda (vou adaptar a linguagem):





"Haja tantas espécies de seres viventes quantas houver, sejam eles nascidos de ovos, de ventres, da umidade, ou espontaneamente; tenham ou não formas; tenham ou não percepção; ou, que não se possa afirmar deles que têm ou não têm percepção, devemos levar todos esses seres à liberação do sofrimento" (Nirvana)  - esse é o espírito da filosofia budista.
Partindo dessa premissa, devemos TENTAR, SEMPRE, minimizar o sofrimento dos seres envolvidos em nossa vida. Se algum ser vivo precisar morrer para nos alimentarmos que seja com dignidade e menor sofrimento possível. Se podemos nos alimentar de seres que (até onde sabemos) não sintam dor e medo, assim façamos. Claro que o que estou falando só vale para quem acha que tal filosofia de vida é válida.

Podemos matar um mosquito engolindo ele, sem querer, durante uma janta, mas podemos matá-lo apenas por diversão, com uma raquete elétrica. Podemos matar um mosquito que pode infectar nosso filho, ou simplesmente respeitar ao máximo sua vida e afastá-lo com um sopro. Penso que, se o mosquito representar um risco para a população, que ele seja morto, da maneira mais indolor e respeitosa possível. (será que o mosquito da dengue sofre muito com aquele veneno dos carros?). Nesse caso, entre o mosquito e eu, que fique eu.

Veja essa entrevista do Dalai-Lama:


Quer dizer, então, que sou egoísta (o gene egoísta do Dawkins, ahhhrrrgg)?

Não! A premissa é que minha vida humana, com meu aparato cognitivo superior ao de um mosquito, torna a minha vida, minha existência, mais útil que a dos demais animas e plantas (potencialmente mais útil, mas não necessariamente mais útil). Eu, enquanto ser humano, se utilizar de minhas plenas potencialidades cognitivas e éticas, posso fazer com que a vida dos demais seres seja mais digna. Sempre haverão mortes, de plantas, animais e seres humanos (animais tb! a divisão aqui é apenas didática). O que importa é que essas mortes, como já disse, sejam o mais dignas possíveis.

Infelizmente, como pensou Aristóteles, o Ser Humano vive mais em ato do que em potência. A maioria de nós age mais alienado e desrespeitosamente do que qualquer cachorro (que, por ser cachorro, não sabe o que é "respeito"). Rs!.

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