25.5.11

fantasmas não podem existir? a aposta do fisicalismo

Texto de Aline M. Ramos - doutoranda em Filosofia pela Université du Québec à Montréal (UQAM), Canadá, Mestre em Filosofia pela Fordham University (EUA), Mestre em Ética & Sociedade pela Fordham University (EUA), Membro do Círculo Latinoamericano de Fenomenología, Membro da Cátedra Canadense de Pesquisa em Teoria do Conhecimento


Muitos de nós partimos de pressuposições fisicalistas no nosso dia-a-dia. Muita gente, mesmo sem conhecimento muito aprofundado de ciência, tem uma espécie de crença mágica em aparelhos de medição e acessórios de laboratório. Dessas coisas que se vê em C.S.I. ou programas de ficção científica, tipo Fringe: máquinas que transformam ondas cerebrais de pessoas mudas em voz computadorizada, eletrodos que monitoram sinapses e reproduzem em telão imagens mentais das pessoas e por aí vai.

Quem acredita nisso, ou melhor, quem acredita na tese de que todos os estados humanos são físicos (i.e. não existem estados mentais, ou estados mentais podem, em última análise, ser reduzidos a estados físicos) pode ser considerado fisicalista.

O fisicalismo parece, de fato, ter bastante credibilidade. Mas muita gente já formulou argumentos contra ele. Exemplo disso é Carl Gustav Hempel, matemático, físico e filósofo (aquele do empirismo lógico). O dilema de Hempel é um argumento contra o fisicalismo. O que ele fez foi atacar o fisicalismo dissolvendo o conceito de “física”. O argumento é o seguinte:


(1) Se o fisicalismo é verdadeiro, então a “física” será definida ou como relativa a um estágio incompleto da ciência ou a um estágio ideal, completo, de ciência.

(2) Se a “física” é definida como relativa a um estágio incompleto da ciência, então, o fisicalismo é falso.

(3) Se a “física” é definida como relativa a um estágio ideal, completo, de ciência, então falta conteúdo ao fisicalismo. .∙. O fisicalismo ou é falso ou é falho em conteúdo. [de 1, 2, 3 por dilema construtivo]



Pouquíssimas pessoas em sã consciência (incluindo os próprios fisicalistas) negariam que a ciência evolui. A ideia fisicalista de que tudo é físico (i.e. que há propriedades físicas e que todas as propriedades são físicas) deve ser tomada junto de sua visão de que as ciências naturais – paradigmaticamente, a física – descreve e explica. No entanto, como definiríamos a física, se ela aparenta ser algo mutável?

Parece que nos restam duas possibilidades:

a) Podemos definir a física como relativa a um estágio incompleto da ciência;
b) podemos definir a física como relativa a um estágio completo, ideal, de ciência tal como ela se apresenta.

O problema com a primeira possibilidade é que ela faria com que o fisicalismo alegasse que tudo pode ser exaustivamente explicado pela física atual, o que obviamente não ocorre, já que há vários fenômenos ainda não explicados pela física, como a matéria escura. É muito provável que nosso atual entendimento do universo físico pode ser falsificado e substituído por outro, melhor, mais abrangente. Assim, como fisicalismo se apóia na física atual, i.e. um estágio incompleto da teoria física, ele deve ser falso.

O problema com o segundo é que se dissermos que a física é definida em relação a uma teoria física completa e o fisicalismo, por sua vez, alegasse que tudo pode ser descrito por esta teoria física completa. O que se segue é que simplesmente não saberíamos o que o fisicalismo está dizendo, já que ainda não atingimos esse estágio de uma teoria física completa; assim, o fisicalismo seria falho em conteúdo.

Finalmente, as duas possibilidades nos levam à conclusão de que o fisicalismo ou é falso, ou é falho em conteúdo, o que deveria fazer com que pensássemos bem antes de ficarmos fascinados com os avanços tecnológicos a ponto de acreditarmos que será possível, um dia, fazermos coisas como ler pensamentos através de tomografias computadorizadas e coisas assim.

Um comentário:

Aline disse...

Acabei de descobrir esse post aqui! Obrigada por pretigiar meu blog! Vou tentar atualizar com mais frequência (ainda mais agora, que sei que tenho leitores!)