23.5.11

Doação de dinheiro e filosofia budista (Dana)

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fonte: Terra




REFLEXÃO:


Generosidade (Dana)



Para a filosofia budista umas das origens do sofrimento é a cobiça e o apego, que geram o desejo desenfreado.

Por causa disso, uma das principais práticas do budismo é chamada de Dana. Dana significa a prática da generosidade ou o ato de compartir com os outros. É um antídoto contra o apego, a esse agarrar-se com desespero às coisas, ao apego desmedido às nossas coisas. Encontramos essa cobiça e apego em todos os lugares. Agarramo-nos às nossas posses e não queremos nos soltar delas. O problema é que, quanto mais possuirmos, maior será o fardo.


 A prática da generosidade pode ser de grande ajuda, pois ela é um antídoto contra a mesquinharia. Além disso, o ato de compartilhar as nosas posses com os outros, ou o abandono do nosso egoísmo, ajuda a abrir as nossas mentes para o amor bondade e a compaixão. E estes são um antídoto contra o apego e o desejo.




A generosidade possui formas distintas. Pode-se dizer que existem três níveis de generosidade. O primeiro se chama dar com u’a mão. Com esse tipo de generosidade você dá porque as pessoas pedem ou porque você é pressionado a fazê-lo, ou ainda porque as pessoas estão olhando. Mas você continua segurando com u’a mão. Você, na verdade não quer dar e assim o faz com relutância. Digamos que um mendigo o importune. Para livrar-se dele, você lhe dá algo. Se você já esteve na Índia, provavelmente enfrentou situações em que os mendigos o seguem como uma sombra e não o abandonam até que finalmente você lhes dê algo. Essa é uma forma de generosidade, de compartir com os outros. Mas ela possui um valor limitado, porque o verdadeiro espírito imbuído no ato de dar é de realmente se soltar do que é doado, abandonar as coisas. Esse tipo de generosidade é abandono até certo ponto, e portanto, incompleto.


O segundo nível de generosidade é dar amistosamente. Quer dizer, você dá porque gosta de dar. Você se sente bem. Não é necessário pressão para que você o faça. Sempre que você vê alguém numa situação de necessidade, se você tem o suficiente para si mesmo, e possui o objeto da doação em dobro, você o dá com um sentimento de amizade. Se você tem duas bananas e alguém está com fome, você habitualmente dará uma. Essa é uma forma mais elevada de generosidade porque você não é pressionado a fazê-la – ela vem do seu próprio sentimento de amizade e você não está desesperado e firmemente agarrado às coisas.


O terceiro nível de generosidade é dar como um rei. Ao dar como um rei, você dá qualquer coisa em qualquer momento. Você dá a sua camisa. Você dá o seu último alimento para alguém que esteja com mais fome. Como não existe o pensamento precedendo a ação, você dá o melhor que tiver. Não existe nenhum apego, nem mesmo a idéia de um “eu” envolvido no ato generoso.


Bhante Yogavacara Rahula
[ Generosidade: Praticando o Dhamma no dia a dia]



“Certa vez, Ananda, neste lugar havia uma cidade com um próspero e movimentado mercado chamada Vebhalinga, com muitos habitantes e repleta de gente. Agora o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, vivia próximo a Vebhalinga. Foi aqui, na verdade, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, tinha o seu monastério, foi aqui, de fato, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, residia e orientava a Sangha dos bhikkhus.”

“Em Vebhalinga o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, tinha como patrocinador, como seu principal patrocinador, um oleiro chamado Ghatikara.

“Agora, o Rei Kiki de Kasi ouviu: ‘Parece que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, chegou em Benares e está no Parque do Gamo em Isipatana.’ Assim ele mandou preparar um grande número de carruagens reais e montando numa delas saiu de Benares com toda a pompa da realeza para ir ver o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado. Ele foi até onde a estrada permitia o acesso das carruagens e depois desmontou da sua carruagem e seguiu a pé até onde estava o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado. Depois de cumprimentá-lo, ele sentou a um lado e o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, instruiu, motivou, estimulou e encorajou o Rei Kiki de Kasi com um discurso do Dhamma.

“Com a conclusão do discurso, o Rei Kiki de Kasi disse: ‘Venerável senhor, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, junto com a Sangha dos bhikkhus concorde em aceitar a refeição de amanhã.’ O Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, concordou em silêncio. Então, sabendo que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, havia concordado, ele se levantou do seu assento e depois de homenagear o Abençoado, mantendo-o à sua direita, partiu.

Então, quando a noite terminou, o Rei Kiki de Kasi fez com que fossem preparados vários tipos de boa comida na sua própria residência – com arroz de primeira e muitos tipos de molhos e de caril – e ele fez com que a hora fosse anunciada para o Abençoado: ‘É hora, venerável senhor, a refeição está pronta.’

“Então, ao amanhecer, o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, se vestiu e tomando a sua tigela e o manto externo foi junto com a Sangha dos bhikkhus até a residência do Rei Kiki de Kasi e sentou num assento que havia sido preparado. Então, com as suas próprias mãos, o Rei Kiki de Kasi serviu e satisfez a Sangha dos bhikkhus liderada pelo Buda com os vários tipos de alimentos. Quando o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado havia terminado de comer e removeu a mão da sua tigela, o Rei Kiki de Kasi tomou um assento mais baixo e disse para o Abençoado: ‘Venerável senhor, que o Abençoado aceite uma residência minha para o retiro das chuvas em Benares; isso será benéfico para a Sangha.’ – ‘Já basta, rei, minha residência para o retiro das chuvas já foi dada.’

“Uma segunda e uma terceira vez o Rei Kiki de Kasi disse: ‘Venerável senhor, que o Abençoado aceite uma residência minha para o retiro das chuvas em Benares; isso será benéfico para a Sangha.’ – ‘Já basta, rei, minha residência para o retiro das chuvas já foi dada.’

“O rei pensou: ‘O Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, não aceita a residência que ofereço para o retiro das chuvas em Benares,’ e ficou muito desapontado e triste.

“Então, ele disse: ‘Venerável senhor, você tem um patrocinador melhor do que eu?’
“Eu tenho, grande rei. Há uma cidade chamada Vebhalinga onde vive um oleiro chamado Ghatikara. Ele é o meu patrocinador, meu principal patrocinador. Agora, grande rei, você pensou: ‘O Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, não aceita a residência que ofereço para o retiro das chuvas em Benares,’ e você está muito desapontado e triste, mas o oleiro Ghatikara não é assim e não será assim. O oleiro Ghatikara buscou refúgio no Buda, no Dhamma e na Sangha. Ele se abstém de matar seres vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta imprópria em relação aos prazeres sensuais, da linguagem mentirosa, do vinho, álcool e outros embriagantes que causam a negligência. Ele tem perfeita confiança no Buda, no Dhamma e na Sangha e possui as virtudes apreciadas pelos nobres. Ele está livre da dúvida com relação ao sofrimento, à origem do sofrimento, à cessação do sofrimento e ao caminho que conduz à cessação do sofrimento. Ele come apenas numa parte do dia, ele observa o celibato, ele é virtuoso, de bom caráter. Ele deixou de lado as pedras preciosas e o ouro, abandonou as pedras preciosas e o ouro, ele desistiu das pedras preciosas e do ouro. Ele não cava o chão em busca de argila usando uma picareta com as próprias mãos; a argila que sobra dos aterros ou aquela que foi deixada pelos ratos, ele traz para casa num carrinho; ao terminar um pote ele diz: ‘Que qualquer um que aprecie esses potes deixe um pouco de arroz ou feijão, ou lentilha, e que leve o que lhe agradar,’ Ele sustenta os seus pais cegos e envelhecidos. Tendo destruído os cinco primeiros grilhões, ele é um daqueles que irá renascer espontaneamente [nas Moradas Puras] e lá realizará o parinibbana sem nunca mais retornar daquele mundo.

“Em certa ocasião, quando eu estava em Vebhalinga, pela manhã, me vesti e, tomando a minha tigela e o manto externo, fui até os pais do oleiro Ghatikara e perguntei: ‘Por favor, onde foi o oleiro?’ – ‘Venerável senhor, o seu patrocinador saiu; mas tire arroz do caldeirão e molho da caçarola e coma.’

“Eu assim fiz e fui embora. Então, o oleiro Ghatikara foi até os pais dele e perguntou: ‘Quem tirou arroz do caldeirão e molho da caçarola, comeu, e foi embora?’ – ‘Meu querido, o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado.’

“Então, o oleiro Ghatikara pensou: ‘É um ganho para mim, é um grande ganho para mim, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, conte comigo assim!’ E o êxtase e a felicidade nunca o abandonaram durante quinze dias e os pais dele por uma semana.

“Em outra ocasião, quando eu estava em Vebhalinga, pela manhã, me vesti e, tomando a minha tigela e o manto externo, fui até os pais do oleiro Ghatikara e perguntei a eles: ‘Por favor, onde foi o oleiro?’ – ‘Venerável senhor, o seu patrocinador saiu; mas tire mingau da panela e molho da caçarola e coma.’

“Eu assim fiz e fui embora. Então o oleiro Ghatikara foi até os pais dele e perguntou: ‘Quem tirou mingau da panela e molho da caçarola, comeu, e foi embora?’ – ‘Meu querido, o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado.’

“Então, o oleiro Ghatikara pensou: ‘É um ganho para mim, é um grande ganho para mim, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, conte comigo assim!’ E o êxtase e a felicidade nunca o abandonaram durante quinze dias e os pais dele por uma semana.

“Em outra ocasião, quando eu estava em Vebhalinga a minha cabana estava com goteiras. Então, me dirigi aos bhikkhus da seguinte forma: ‘Vão, bhikkhus, e vejam se há alguma palha na casa do oleiro Ghatikara.’ – ‘Venerável senhor, não há palha na casa do oleiro Ghatikara; há palha só na cobertura.’ – ‘Vão, bhikkhus, e removam a palha da cobertura da casa do oleiro Ghatikara.’

“Eles assim fizeram. Os pais do oleiro Ghatikara perguntaram aos bhikkhus: ‘Quem está tirando a palha da cobertura?’ – ‘Irmã, a cabana do Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, está com goteiras.’ – ‘Tomem-na, veneráveis senhores, tomem-na, nós os abençoamos!’

“Então, o oleiro Ghatikara foi até os pais dele e perguntou: ‘Quem removeu a palha da cobertura?’ ‘Os bhikkhus assim fizeram, meu querido; a cabana do Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, está com goteiras.’

“Então, o oleiro Ghatikara pensou: ‘É um ganho para mim, é um grande ganho para mim, que o Abençoado Kassapa, um arahant, perfeitamente iluminado, conte comigo assim!’ E o êxtase e a felicidade nunca o abandonaram durante quinze dias e os pais dele por uma semana. Então, aquela casa permaneceu três meses completos tendo o céu como cobertura, e mesmo assim, lá não entrou chuva.
Assim é o oleiro Ghatikara.”

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