30.5.11

Linguística Cognitiva e sua interação com a filosofia da mente

Segue abaixo um pequeno excerto da entrevista elucidativa com a Prof. Margarida Salomão concedida à revista INVESTIGAÇÕES. Abaixo o resumo curricular da autora.



Doutora em Linguística pela Universidade da California,Berkeley, onde desenvolveu sua tese sobre redes construcionais como solução para casos de polissemia, com a supervisão de um comite composto por Charles Fillmore(principal orientador), George Lakoff e Paul Kay. Visiting scholar na mesma Universidade, perÍodo 2006-2007, trabalhando na area de linguística cognitiva,com apoio da CAPES. Líder do grupo de pesquisa GRAMÁTICA E COGNIÇÃO. Professora Associada da Universidade Federal de Juiz de Fora,onde atua nos Programas de Graduacao em Letras e de Pós Graduação em Linguística. Pesquisa em desenvolvimento na área de linguística cognitiva, sub-área gramática das construcoes(redes,estruturas argumentalis, aspecto e modalidade). No momento,está iniciando uma cooperação com o ICSI/ University of California ,Berkeley no propósito de desenvolver a versao da Frame Net para o Português, com o apoio da FAPEMIG e do CNPq.

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" Nesta entrevista, Margarida Salomão nos guia no amplo e fecundo terreno da Linguística Cognitiva (LC), e nos instiga a reflexões sobre temas centrais na agenda contemporânea dos estudos linguísticos: linguagemmente-corpo-mundo. Nesse terreno, trilhamos um caminho irreversível para a compreensão da cognição humana. Com a propriedade de uma das pesquisadoras pioneiras da LC no Brasil, Margarida Salomão ".

[...] A categoria de corporificação da cognição confronta expressamente a tradição dualista, representada pelo pensamento de Descartes, e retomada na filosofia contemporânea pelos filósofos funcionalistas (Lewis, Fodor, Putnam, Searle, Dennet), para quem a natureza e a estrutura da mente podem ser descritas sem que se leve em conta a base física da vida mental. Mesmo em filosofia, esta posição recebe fortes críticas seja na 
vertente do materialismo eliminativista dos Churchland (Paul e Patricia), que se autodenominam neurofilósofos, seja em um interessante desdobramento americano do fenomenologismo europeu, a corrente filosófica enativista, representada pelos trabalhos de Humberto Maturana, Evan Thompson, Alva Nöe, Francisco Varela, Hubert Dreyfuss.

Não se pode dizer, à luz da produção intelectual considerada, que a categoria da cognição corporificada acarrete um viés biologizante, se esta designação referir qualquer tipo de abordagem reducionista da cognição. Pelo contrário, a cognição, nesta perspectiva, é concebida como processo emergente das interações entre corpo, cérebro e ambiente sócio-físico.

A mente é abordada como sistema dinâmico materializado no mundo antes que como uma rede neural, “na cabeça”. Nestes termos, a cognição é entendida como reorganização material do sistema mental, provocada por alterações em seu acoplamento com o ambiente. Só que a relação mente-mundo não é de “espelhamento”, mas de interferência recíproca: a experiência não é, pois, mero epifenômeno da vida mental, mas dimensão fundadora da mente e de sua fenomenologia. Em termos filosóficos, again, trata-se de trocar Descartes por Hegel…

Isso posto, fica difícil falar sobre uma refutação da tese saussuriana sobre a arbitrariedade do signo linguístico. Saussure falava de um ponto de vista totalmente diferente: a arbitrariedade referida no texto do Cours é exemplificada pela comparação entre os significantes de lexemas que, em diversas línguas, corresponderiam, supostamente a um mesmo significado. Se é disso que se trata, não há contestação possível, até porque não é disso que falamos. Aqui, falamos sobre cognição linguística e sua relação com outras experiências cognitivas e com a materialidade biológica da qual toda experiência emerge. Nestes termos, a cognição linguística é motivadíssima: pela evolução biológica, pela neurobiologia, pela história da língua, pela própria língua como sistema emergente sincronicamente, pela situação discursiva, pelas intenções e restrições de que é portador o sujeito que fala (ou que interpreta)... Um oceano de motivações! 

Abraçando este ponto de vista, a LC contribui uma agenda apaixonante aos estudos cognitivos contemporâneos, agenda que de alguma forma vai sendo atendida através da investigação empírica interdisciplinar, uma amostra robusta da qual é publicada trimestralmente no periódico, editado sob a égide da ICLA, Cognitive Linguistics. [...]

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