5.12.11

Einstein, ateu ou religioso?


No artigo Religião e Ciência, que faz parte do livro "Como vejo o mundo", publicado em alemão em 1953, Einstein escreve:

"Todos podem atingir a religião em um último grau, raramente acessível em sua pureza total. Dou a isto o nome de religiosidade cósmica e não posso falar dela com facilidade já que se trata de uma noção muito nova, à qual não corresponde conceito algum de um Deus antropomórfico (...) Notam-se exemplos desta religião cósmica nos primeiros momentos da evolução em alguns salmos de Davi ou em alguns profetas. Em grau infinitamente mais elevado, o budismo organiza os dados do cosmos (...) Ora, os gênios religiosos de todos os tempos se distinguiram por esta religiosidade ante o cosmos. Ela não tem dogmas nem Deus concebido à imagem do homem, portanto nenhuma Igreja ensina a religião cósmica. Temos também a impressão de que hereges de todos os tempos da história humana se nutriam com esta forma superior de religião. Contudo, seus contemporâneos muitas vezes os tinham por suspeitos de ateísmo, e às vezes, também, de santidade. Considerados deste ponto de vista, homens como Demócrito, Francisco de Assis e Spinoza se assemelham profundamente".

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O meu colega, o psicólogo, especialista em Ciências Humanas e Saúde, José Francisco Fernandes Junior, grande estudioso do assunto, indicou outras fontes importantes. TODAS muito pertinentes, de modo que aqui as publico.

Retirado da reportagem "O Deus de Einstein", da Revista Galileu, edição 196, novembro de 2007: Em meados dos anos 1930, o diplomata e mecenas alemão conde Harry Kessler (1868-1937) chegou para o já renomado Albert Einstein e lançou: "Professor, ouvi dizer que você é profundamente religioso". Sem se alterar, o cientista respondeu:

"Sim, você pode dizer isso. Tente penetrar, com os nossos meios limitados, os segredos da natureza. Você vai descobrir que, por trás de todas as concatenações discerníveis, há algo sutil, intangível e inexplicável. A veneração a essa força que está além de tudo o que podemos compreender é a minha religião. Até certo ponto, de fato, eu sou religioso".

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MAS, de repente, indícios de ATEÍSMO...


Uma carta inédita de Albert Einstein datada de 1954, ano anterior ao de sua morte, traz pela primeira vez críticas contundentes do físico à religião. No manuscrito dirigido a seu amigo filósofo Eric Gutkind, que será leiloada hoje em Londres, o autor das teorias da relatividade retrata as práticas religiosas como "infantis".

"A palavra Deus é para mim nada mais do que expressão e produto da fraqueza humana", escreveu Einstein, para quem a Bíblia seria "uma coleção de lendas honoráveis, ainda que primitivas".

O conteúdo da carta difere de declarações anteriores de Einstein, que, segundo historiadores, nunca havia deixado muito clara a sua visão sobre a religião. Nessa seara, o físico era mais lembrado pela frase "A ciência sem religião é manca, a religião sem a ciência é cega".

Na carta a Gutkind, porém, Einstein classifica a crença em Deus como "produto da fraqueza humana", e não poupa nem a religião do povo ao qual pertencia. "A religião judaica, como todas as outras religiões, é uma encarnação das superstições mais infantis." Einstein, um sionista que teve papel importante na criação do Estado de Israel, diz a Gutkind que não acredita que os judeus sejam um povo "escolhido".

A carta traz um certo tom de descrença na humanidade e a noção de que o poder corrompe as pessoas. Os judeus, diz, só estariam "protegidos dos piores cânceres por lhes faltar poder".

A casa de leilões Bloomsbury, onde o manuscrito original será vendido, diz estar "100% certa" da autenticidade do documento e que espera conseguir por ele um preço entre US$ 12 mil e US$ 16 mil. O vendedor é um colecionador particular.

Historiadores não costumam retratar Einstein como ateu, mas a imagem pode mudar com a publicação da carta. Sua visão sobre Deus era tida apenas como não-clerical ("Não creio no Deus da teologia que recompensa o bem e pune o mal").

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Comentários do psicólogo, especialista, José Francisco Fernandes Junior

...acredito que deve haver melhor estudo sobre o assunto. No que percebo pela leituras, a opinião de Einstein é muito complexa, desagrada tanto aos teístas como aos ateístas. Ele não acreditava num Deus pessoal, e numa situação chegou a dizer algo como que preferia acreditar num Deus do que ser ateu. Ele não era apegado a dogmas e rituais. Na minha opinião, a filosofia religiosa de Einstein nos mostra que mesmo através da ciência, do empirismo, da observação, do racionalismo, etc, sempre haverá algo intangível e inalcançável por trás da natureza. É essa força, a veneração disso que está além daquilo que podemos compreender racionalmente, que é a religião dele. E é nesse exato sentido que ele fala que "a ciência sem a religião é manca e a religião sem a ciência é cega". Não é no sentido da religião como dogma, nem como Deus pessoal, nem como rituais, mas sim no sentido de um sentimento religioso que nos mostra como que o homem é pequeno diante do mistério da natureza...


E, você, o que acha?

Um comentário:

Ciência, Psicologia, Filosofia e Religião disse...

Para Einstein, o que é religioso não é aquilo que vem de um ritual, de um dogma, de um culto, de uma igreja, de um ato de simples fé. Em alguns momentos ele mostra respeito pelas pessoas que fazem isso; em outros momentos, como aparentemente na recente carta, ele não mostra o mesmo respeito.

Em sua filosofia da religião, sentimento religioso de certa forma pode ser entendido em partes como aquele sentimento de mistério, de contemplação, de reverência diante da complexidade da natureza, diante daquilo que, apesar dos maiores esforços humanos, permanece insondável e inalcansável por nossos limitados meios e instrumentos... é esse sentimento de se maravilhar diante do cosmos...

Como ele mesmo disse, quem nunca vivenciou isso parece morto ou cego.

Em suas palavras: "Sentir que, por trás do vivenciável, se esconde algo inacessível à nossa mente, algo cuja beleza e sublimidade só nos alcança de forma mediada e como um fraco reflexo: isso é religiosidade. Neste sentido, sou religioso. A mim, basta pressentir estes mistérios com espanto e tentar apreender com a mente e com toda humildade uma imagem pálida da estrutura sublime do ser".

Ele não via na natureza um propósito, nem um objetivo, no sentido que entendemos pela religião, quando pensamos em um Deus pessoal atuando no mundo, fazendo milagres e dirigindo esse mundo...

Todavia, ele apontava o quanto esse sentimento pode ser útil ao cientista, que não deve permanecer apenas na tarefa de quantificar os dados do mundo objetivo, pois isso seria não se fazer perplexo diante da maravilha da natureza...

É possivelmente nesse sentido que ele fala que "a ciência sem a religião é mancar, e a religião sem a ciência é cega".

Em suma, para ele, Deus se revelava na harmonia das leis do universo, que a ciência pode investigar.

Sua filosofia da religião é tão complexa, que é fácil fazer análises rápidas, que apontem ou que ele era religioso (no sentido convencional), ou que ele era ateu (como Richard Dawkins tenta distorcer).