17.6.12

Mais um tiro no pé da ATEA...

Dia desses a ATEA publicou a seguinte imagem...



Na imagem temos diferentes líderes religiosos representados com o objetivo de mostrar os ideais competitivos das "religiões", como um todo (como se cada religião pudesse ser reduzida à outra). Ao final da imagem, o zoólogo inglês Richard Dawkins, conhecido militante neo-ateu, representando a voz da "ciência" (zombando da religião, é claro).

A imagem pretende forçar a idéia ingênua de que, de um lado, estão as RELIGIÕES como uma grande categoria de irracionalismo e ilusão e, de outro, a CIÊNCIA, como uma grande categoria de saber "PURO", "NEUTRO" e absolutamente confiável. Esse tipo de compreensão emerge de um entendimento incompleto e errôneo das duas categorias - ciência e religião. 

Nada mais tosco do que esse tipo de análise fugaz. É triste, pois centenas de pessoas sem o devido treinamento filosófico e científico compartilham essa imagem COMO VERDADE através do facebook.

ELES NÃO SABEM, mas muitos estão sendo marionetes das ideologias (nada científicas) da instituição ATEA (essa sim uma grande 'religião' competitiva!)

Não vou entrar aqui nos meandros metafísicos e filosóficos desta pretensão, pois já falei anteriormente no blog. Deixo, hoje, a cargo do meu colega Emmanuel Burck, médico, que brilhantemente elaborou este texto:

Essa publicação da ATEA bem mostra o preconceito e hipocrisia em que várias instituições humanas baseiam seus frágeis fundamentos. Em primeiro lugar obviamente não existe sobrenatural. Tudo que existe está na natureza. Existem princípios desconhecidos, como ocorreu com o eletromagnetismo, com a microbiologia, etc. Fazem parte de um mundo invisível, pois a visão humana é algo extremamente limitado (comprimento de onda de cerca de 400 a 700nm do espectro eletromagnético). Outra confusão é em relação as diferenças entre os conceitos de religiosidade e espiritualidade. Nem todo espiritualista é religioso. Espiritualista é quem se opõe ao conceito de materialista. Materialismo é uma doutrina metafísica que tenta reduzir tudo à matéria (reducionismo), mas sem definir exatamente o que é matéria. Ademais o ateísmo é também matéria de fé, diferente do agnosticismo, em que se admite o não-saber. Não entendo como agnósticos podem estar misturados aos ateus, já que afinal os ateus já definiram sua crença de que Deus não existe. Se Maomé é o profeta do Islã, Sidarta o do budismo, Krishna do hinduísmo, e assim sucessivamente, Darwin é tratado muitas vezes como sendo um profeta do ateísmo, e Richard Dawkins (o Grande Dawkins, de um comentário acima) como um sacerdote do ateísmo. Embora muitas pessoas se digam ateus por não concordarem com a hipocrisia de diversas instituições religiosas (ateus sinceros), há vários que também aderem a essa crença por hipocrisia, ignorância e superficialidade. Misturar todas diferentes filosofias humanas bem denota ignorância sobre os diferentes sistemas filosóficos ou, o que é pior, má-fé. A religião pode ser um meio de se chegar um insight espiritualista, mas não é o único, e também nem sempre é bem sucedido. Todavia a religião é apenas um instrumento, e não cabe juízo de valor. É a maneira que o homem usa o meio que o deturpa. É o mesmo que fazer juízo de valor da internet: pode servir para debates saudáveis como esse, para difusão de ideias, ligar pessoas, etc; mas pode também servir para pedofilia, roubo, etc. A internet é só um meio. É o mesmo que considerar a ciência com juízo de valor, pois assim como proporciona conhecimento e conforto, pode produzir armas biológicas e nucleares, bem como outros instrumentos de dominação por meio de patentes. A ciência e a religião não são em si boas ou más. São amorais. O que determina a moralidade é o homem. O homem é um ser moral. Ele pode usar a religião para dominação de massas. A política e o materialismo utópico ateu (em estados não laicos, mas ateus, como Cuba, China e a antiga URSS) podem suprimir a espiritualidade do seu povo também para dominação (no caso o profeta é Marx), causando sofrimento, opressão. Exatamente o que condenam nas instituições religiosas. É sempre o ser humano, com suas tendências morais, que pode usar as instituições para dominação (poder) ou para o amor. O Cristianismo puro, primitivo, antes dos dogmas absurdos e ridículos, é fundamentado no amor. O budismo, na compaixão. O espiritismo (que não é propriamente uma religião, pois não tem sacerdócio, liturgia, hierarquia eclesiástica, ou cultos) tem por regra a caridade. Mesmo o ateísmo sincero, sem preconceito, pode servir ao combate à hipocrisia. Porém tudo depende de como é usado. Sim para a liberdade para crer ou para não crer. Não à hipocrisia e ao preconceito."
Quem quiser se aprofundar mais no tema, seguem dois artigos científicos sobre o tema:


Mitos históricos sobre a relação entre ciência e religião (resenha)
Alexander Moreira-Almeida
Revista de Psiquiatria Clínica 36(6):252-3, 2009

E tem um artigo que o resume:
Mitos e verdades em ciência e religião: uma perspectiva histórica
Ronald L. Numbers
Revista de Psiquiatria Clínica 36(6):246-51, 2009

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