3.6.11

a natureza do escorpião é picar, e a sua?

mestre escorpião

Um mestre do Oriente viu quando um escorpião estava se afogando e decidiu tirá-lo da água, mas quando o fez, o escorpião o picou. Pela reação de dor, o mestre o soltou e o animal caiu de novo na água e estava se afogando. O mestre tentou tirá-lo novamente e outra vez o animal o picou. Alguém que estava observando se aproximou do mestre e lhe disse:
-Desculpe-me mas você é teimoso! Não entende que todas as vezes que tentar tirá-lo da água ele irá picá-lo? O mestre respondeu:

-A natureza do escorpião é picar, e isto não vai mudar a minha, que é ajudar. 


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Reflexão:


A ideia de compaixão acompanha as religiões e as sociedades desde sempre. Embora segundo Sponville (1995, p. 113) referir que “ a compaixão tem má fama: ninguém gosta de ser alvo dela, nem tão pouco senti-la”. Muitos encaram compaixão simplesmente como o acto de fazer o bem ao outro, outros encaram de uma forma mais complexa, como um sentimento de simpatia profundo para o outro que foi acometido pelo infortúnio, acompanhado por um desejo forte de aliviar o sofrimento. No entanto, simpatia como refere Sponville (1995, p. 114) ser “ a participação afectiva nos sentimentos dos outros (estar em simpatia è sentir com, ou da mesma maneira, ou um pelo outro), bem como o prazer que daí resultam.” Sponville considera então a simpatia como um sentimento e não como uma virtude.

Já Aristóteles considera que a compaixão significa etimologicamente sentir ou sofrer com o outro. O seu excesso paralisa, na medida em que se constitui na síndrome de “o coração partido”. A sua deficiência anda associada à “dureza de coração” e, portanto, à insensibilidade. Sponville, também corrobora esta ideia uma vez que refere que “a participação no sofrimento dos outros”( p.115). No Budismo, compaixão pode ser traduzida como simpatia activa, afeição delicada, envolve o sentimento do outro como parte de nos próprios.

Sponville avança com a ideia de que para os budistas a compaixão é talvez a maior virtude de todas. Uma vez que a compaixão, como nos diz (1995, p. 119) “ é o amor na medida em que afecta o homem de tal maneira que ele regozija com a felicidade dos outros e se entristece com a sua desdita”. Considerando que a compaixão é “ uma virtude singular que nos abre não apenas a toda humanidade mas ao conjunto dos vivos ou, pelo menos, dos que sofrem” (p. 122).

Para André Comte-Sponville, a compaixão é, a um só tempo, um sentimento e uma virtude, pois permite passar da ordem afetiva à ordem ética, do que sentimos ao que queremos, do que somos ao que devemos ser.

Para o filósofo francês contemporâneo, a compaixão é a grande virtude do Oriente budista que, comparada à exultante mensagem cristã sobre o amor, a de Buda seria mais realista, ao afirmar: "Ama e faz o que queres" ou "compadece-te e faz o que deves".


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