19.6.11

Máquina não simulará mente, diz cientista

mais uma contribuição do Juninho (NUPES)
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O neurocientista Miguel Nicolelis, ele próprio um futurologista de mão cheia, só não tem paciência com um tipo de ideia futurista: a de que os computadores acabarão desenvolvendo uma mente que replicaria a do homem.

"O cérebro humano não é computável, não dá para simulá-lo com um algoritmo [lista de expressões matemáticas]", diz Nicolelis.

A reportagem é de Reinaldo José Lopes e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-06-2011.

Ele se arrisca a prever que nenhum avanço teórico ou tecnológico vai mudar isso. "É quase como a velocidade da luz na física", compara: um limite que, por definição, não pode ser ultrapassado.

Em "Muito Além do Nosso Eu", livro de divulgação científica do pesquisador que está chegando agora ao Brasil, Nicolelis explica o porquê: o cérebro, diz ele, tem um ponto de vista, diferentemente das máquinas de silício.

Para o brasileiro, o órgão cria ativamente o mundo que percebemos, em vez de recebê-lo passivamente pelos sentidos. Estaria mais para simulador de realidade virtual do que para câmera digital.


ANDAR DA MENTE

O paulistano de 50 anos e palmeirense roxo, líder do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, participa na próxima quarta-feira do projeto Fronteiras do Pensamento, em São Paulo. Na obra, ele volta a detalhar seu antigo sonho: fazer um paraplégico voltar a andar usando apenas a força do pensamento.
O desejo pode virar realidade graças às chamadas interfaces cérebro-máquina, uma tecnologia que ele ajudou a desenvolver.

Nesse tipo de sistema, é possível "ler" a atividade elétrica de dezenas ou centenas de neurônios e traduzir esses sinais em instruções para mexer um membro robótico, ou mesmo, em tese, um exoesqueleto robotizado inteiro.

Formas embrionárias do conceito já funcionaram em ratos, macacos e humanos. Nicolelis, contudo, acha que é possível ir além. Nada impede que pessoas normais estendam o alcance de seus sentidos se conectando à distância com máquinas.

Conforme as interfaces forem se tornando menos desajeitadas e invasivas, ele e seus colegas apostam que será possível conectar diretamente a mente de duas ou mais pessoas. Nasceria assim a "brainet", uma versão cerebral da internet.

Ideias ousadas desse tipo estão por toda parte no livro, e Nicolelis reconhece sua predileção por forçar um pouco os limites de seu campo.

Um dos problemas da ciência atual, afirma, é que as pessoas começaram a se contentar com "avanços pequenos, passos muito miúdos". "A coisa passou a ser um jogo de sobrevivência, enquanto devia ser um jogo de risco, até porque virou um negócio enorme. Perdeu-se muito do romantismo", diz ele.

Ele vê avanços na ciência brasileira dos últimos anos, mas alerta para o fato de que índices de produtividade, como número de artigos publicados por cientistas, podem não significar grande coisa.

"É um grande problema avaliar produção científica da mesma maneira que se avalia produção econômica. Tem gente que publica um único trabalho na vida, mas esse trabalho faz toda a diferença. Nesse sentido, a ciência está muito mais próxima da arte", afirma o pesquisador.

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