contribuição do DR. Leonardo Crema
1. A distância da família. Você nunca recupera o tempo perdido. Não recupera os momentos que poderia ter passado com os filhos e com o marido.
2. Você fica mais burra(o). Certeza! Você perde a noção do macrocosmo. O teu horizonte fica limitado ao assunto da tese durante bom tempo da tua vida. Para muitos, aliás, a vida toda…
3. Você vira uma alienada(o). Enquanto teus amigos discutem livros que você não teve tempo de ler, filmes que você não pode assistir, as últimas medidas do governo, você fica olhando com cara de tonta(o). Os amigos sequer perguntam a tua opinião.
4. Ninguém vai ler a tua tese de doutorado. Convenhamos, quem vai ler as minúcias entediantes do que você escreveu? Olha, dissertações de mestrado até valem a pena ser lidas. Elas são mais gerais, mais soltas, menos descompromissadas, criativas. Menos – a palavra temida – ”acadêmicas”. A tua tese vai colecionar pó nas estantes de uma (ou duas) bibliotecas.
5. Você vira uma pessoa chata. Você só quer ler sobre “aquilo”. Só se interessa sobre “aquilo”. Só quer falar sobre “aquilo”. Só que “aquilo” é o que ninguém gosta de falar. Ao menos que você seja uma das raras sortudas(os) e encontre uma outra(o) louca(o) que se proponha a discutir o assunto com você. Aí, ninguém segura.
6. As pessoas se frustram com o teu (parco) conhecimento. Presumem que você saiba tudo sobre a tua área de pesquisa. Quando percebem que você hesita, re-avalia e, até mesmo, questiona as próprias idéias, as pessoas te olham de soslaio, suspeitas… Devem pensar, “essa aí, nunca vai ser doutora”. Os alunos, nossa, esses são os primeiros a atirar pedras. Professor tem que saber tudo, pô!
7. Não sobra tempo para cuidar de você. Pois é, eu já cheguei a correr maratonas. Hehe, até eu acho difícil de acreditar. Hoje em dia fico feliz com pequenas caminhadas. As unhas, cabelos, pele, horrores à parte. A situação é especialmente triste para aquelas(es) que costumavam cuidar da aparência, como eu.
8. As tuas costas ficam destruídas. É batata, acontece com todos. Já passei semanas tomando relaxantes musculares por conta de ficar muito tempo (mal)sentada. Seções de fisioterapia para agüentar o tranco são a única salvação.
9. Os (des)encontros com a(o) (des)orientador(a). Você passa meses a fio escrevendo, re-escrevendo, deletando, revisando um capítulo e quando, triunfante, consegue um horário com “Vossa Majestade”, os comentários são, geralmente, críticos. Nenhum orientador elogia. E aí… você começa a duvidar da tua própria capacidade. Droga!
10. A vida! Filmes, livros, teatro, sessões da tarde, amigos, namorar, curtir os filhos. Ou o simples e indefectível dolce fare niente. É, a vida não espera por ninguém.
Bem, se eu não consegui te convencer a desistir dessa empreitada, não diga que eu não te avisei! E eu, por que continuo? Pois é, agora não dá para parar. O estrago já foi feito. E a tese, essa ”coisa” monstruosa que no momento está dormente, está 80% concluída. Ah, e já estava me esquecendo, o significativo ”aumento” de salário. Não vejo a hora de ganhar uns trezentos (reais) a mais…
Palavras escritas na tese: nenhuma. Nem uminha. Culpa: pois é, a coisa está ficando feia mesmo.
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