Eu cheguei lá. Posso morrer em paz aos 37 anos, se assim for.
Cheguei a essa feliz conclusão hoje de tarde, quando almocei com minha esposa em um Shopping Center aqui em Porto Alegre. Almocei bem; um prato saboroso. Isso é um privilégio enorme.
Tenho inúmeros outros motivos banais que evidenciam a minha "chegada lá".
Tenho um carro. Isso é muito bom. Tá, é um Palio 2005 com alguns amassados e sem direção hidráulica, mas me serve para tudo que preciso. Paliozinho valente.
Moro em um confortável apartamento de 2 quartos. Tá, tem só dois quartos e - detalhe - não é meu. É alugado, mas o aluguel cabe no meu bolso. Tá, o "apê" não fica em um bairro chique da cidade, mas na frente de casa tem um churrasquinho bem gostoso. Tem de carne, frango e linguiça. Tá, tudo bem, não o restaurante gourmet que tem no seu bairro, mas você deveria experimentar a farofa deles; é bem boa.
Trabalho com algo que amo. Sou psicólogo. Tá, não me deixa rico, longe disso, mas trabalho muito satisfeito. Trabalho levando bem-estar para os outros. Isso me preenche. Eu escolhi esse caminho (e não foi pelo dinheiro. Foi por ideal mesmo).
Não tenho carteira assinada, nem minha minha esposa, mas fazemos nossa poupancinha, para os imprevistos. A gente se vira bem.
Minha filha estuda em um colégio muito bom, particular, e eu acho caro. Tá, não é o melhor colégio da cidade, mas é muito legal. Fica perto de casa.
Não tenho poupança, nem rendimentos em bancos, mas vivemos dentro da realidade possível. Tá, não é o ideal, mas a gente guarda direitinho o dinheiro, no final do ano, para pagar o IPVA e passar uma semana na Praia. Tá, não é no nordeste nem em Santa Catarina, mas Capão Novo é gostosinho. Aparece por lá para tomarmos um chimarrão neste verão.
Tenho plano de saúde, caro. Muitas pessoas, infelizmente, dependem unicamente do SUS, que deveria funcionar (mas não funciona). É um privilégio poder pagar o plano.
Tenho um celular e um notebook. Tá, não é Iphone nem Macbook, mas dá para instalar o Whatsup e rodar Windows 10. Faço tudo que preciso neles.
Final de semana eu peço pizza em casa. Tá, não é da melhor pizzaria, mas não cobram tele-entrega e vem um guaraná Dolly de graça.
Sou um privilegiado. Tenho tudo, mas a sociedade insiste em dizer que não. Cheguei lá, mas a sociedade diz que AINDA não. Dane-se para a sociedade. Sociedade chata e infeliz.
Sou muito feliz com o que tenho. Tenho muito!!!! Cheguei lá.
Eu venci. Me tornei o meu sonho. Não preciso de mais nada. Dentro do meu Palio vermelho 2005 eu vejo minha esposa se maquiando no banco do lado e o sorriso da minha filha no banco de trás. Felicidade. É isso. Nada mais.
Alguns quilômetros a frente iremos almoçar em família. Vai ser ótimo. A família se ama. O que mais eu podia querer?
Hoje em dia só fico mais feliz quando compro pão-de-queijo para os moradores de rua que moram na lateral do supermercado que tem aqui perto de casa. Quando eles me vêem indo pro supermercado já sabem que, naquele dia, terão café-da-manhã. Tá, não é o melhor café-da-manhã, mas chega recheado de amor.
Tá. Acabei. Perceba o quanto você já é feliz. Durma em paz.
Um comentário:
Oi Tatton! Gostei bastante da sua reflexão, principalmente da maneira como escreveu. Só faltou falar da impermanência ;)
Abraços!
Leonardo T.
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